Viajeros – Troca de pele

É uma tarefa muito árdua a que me proponho: perceber e refletir culturas. A subjetividade da vida me surpreende, me assusta e, acima de tudo, me fascina. Como posso transmitir algo que só eu percebo? Como posso chamar meu ponto de vista de realidade? Quem sou eu para julgar, mesmo que nesse caso o julgamento tenha aspecto de análise?

Conhecer a dor, a luta e a força dos Sem-Terra já mudou a cor de meus olhos. Quem dirá um ano cruzando continentes?! Já fui muitas Micheles, ainda encarnarei muitas outras, até chegar a ser nenhuma. Queria apreender a alma do povo paraguaio, mas nem sei se tal coisa existe – fronteiras artificiais que separam os humanos são romantizadas e enaltecidas, mas no fim geram mais guerras que unidades.

Sei que quero conhecer pessoas, sentir o outro – quem sabe até ser o outro, descobrir terras nunca dantes desbravadas dentro de mim. Sei que há uma hegemonia parasita mundial. Acredito na união latino-americana para que tenhamos autonomia e possibilidade. Mas a revolução, aquela que sensibilizará a mesquinhez da Terra (ou terra) não se fará com armas. A verdadeira revolução se dará (ou, infelizmente, não) na consciência. As armas não acabam com o medo e o egoísmo. O auto e alter conhecimento, creio que sim.

Estou abrindo minha pele, expondo minhas entranhas – no meio de tantos questionamentos, esse é agora meu norte. Mas minha bússola é caprichosa (ou despretenciosa) e pode apontar sua seta para qualquer direção a qualquer momento.


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Esse texto faz parte do livro Viajeros, que foi publicado em posts nesse blog.

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2 Responses to “Viajeros – Troca de pele”

  1. Anonymous disse:

    “É preciso estar sempre embriagado. Para não sentirem o fardo incrível
    do tempo, que verga e inclina para a terra, é preciso que se
    embriaguem sem descanso. Com quê? Com vinho, poesia, ou virtude, a
    escolher. Mas embriaguem-se.” Charles Baudelaire

  2. Michele Torinelli disse:

    clap! clap! clap! clap! (aplausos)

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