Curitiba

No meu agradável bairro de mentira

o único negro é o vigia.

Aqui tem muitas árvores,

as ruas são tranquilas

– na Vila Torres, não.

 

O tiro é o grito. A pedra é o gozo.

 

Não me venha falar de mentes medianas.

Um diploma não dá sabedoria,

muito menos dignidade.

“É que nós somos a exceção”,

a ilusão da “classe esclarecida”.

Acostumados com sucrilhos no prato.

 

Se todos fossem iguais a você,

tudo seria a mesma merda.

Ou pior.

 

10 negros acorrentados por cada piá de bosta

que se crê esclarecido.

Quer ensinar aos outros como se muda o mundo,

porque “é tão simples”.

 

Senta. Ouve. Vê.

A sabedoria está em quem tem tudo pra ser fodido

mas consegue se libertar.

 

Ouvir. Dialogar.

Falar dos conflitos mais profundos

de modo que os outros possam entender.

E se ver.

 

Isso não se aprende na academia.

 

A minha cidade se diz modelo.

Modelo de segregação.

Modelo do pó-de-arroz.

Modelo da sustentabilidade de fachada.

 

Minha cidade colou sua propaganda no espelho e não consegue mais se ver.

 

Enquanto isso, na Cruz Machado.

Enquanto isso, no Guadalupe.

Enquanto isso, na Cidade Industrial.

Enquanto isso, no Uberaba.

A cara desfigurada e real de Curitiba.

 

Mas de dentro da universidade pouco se vê.

E o Pão de Açúcar se preocupa com a sustentabilidade e com você.

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2 Responses to “Curitiba”

  1. Fao disse:

    muito bom…

  2. ali assumpção disse:

    foda! muito bom!

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