Archive for the ‘Sem categoria’ Category

Do amor e seus demônios

domingo, julho 24th, 2016

Em tudo se vê a palavra amor,

mas quase ninguém fala de Amor.

Afinal, cartas de Amor são ridículas.

 

Tão ridículo, esse tal de Amor.

Nos faz perder o controle de tudo.

O controle que supomos crer que existe.

 

Não, o Amor não faz perder o controle.

Antes faz ruir mentiras.

 

Um pouquinho de verdade e já se cessam os diálogos.

Verdades são rudes. Acabam com os jogos.

 

Amor, esse labirinto onde já não sabemos mais o que é verdade ou projeção.

O que é Eu e o que é o Outro.

 

O Amor que sinto não é só meu.

Carrego comigo a ternura das moléculas que se apaixonaram e criaram a vida.

Os séculos e séculos de patriarcado e casamentos de violência e medo.

A amargura de minha vó.

 

Poucos ousam bater na porta do Amor.

Poucos ousam pular abismos.

Poucos ousam abraçar demônios,

a única maneira de criar asas.

 

As pessoas estão muito ocupadas para amar.

As pessoas estão muito distraídas para amar.

As pessoas estão muito ansiosas para amar.

 

O desafio do dar sem nada querer receber

enquanto o coração se estraçalha no peito.

 

O limite entre a generosidade e a auto-preservação.

 

Não posso dar o que já não tenho.

O sangue é rico. Mas acaba.

 

 

 

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Amor-muda

segunda-feira, julho 18th, 2016

Faz um ano que te amo
e tô quase morrendo de amor.
Vivendo de amor.
Um ano morrendo e vivendo de amor.

Quanta coisa mudou nesse um ano.
Quanta coisa em mim mudou.
Como mudou esse amor.
Como o amor nos muda.

O amor é uma muda que cresce
e faz nascê fulô.
Fulô no meu peito.
Com perfume de tu.

O amor mudou a cor dos meus olhos.
É luz que atravessa meu prisma-retina
e se transforma em todas as cores.
O amor me deu olhos de caleidoscópio.

É que a gente sabe que a gente precisa
mudar a gente pra mudar o mundo.

E que o mundo muda a gente.

Mudar o mundo com amor.
Sentir o amor do mundo. Da vida. Do cosmos.
O nosso amor.
(Essa muda que cresce e muda).

O amor que sinto pelo mundo
pelo céu
pelo rio
por você
é
um
só.

É que seu coração é tão bonito!
Eu quase consigo ver.

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encruzilhada

domingo, abril 5th, 2015

Quantas dúvidas brotam a cada certeza?

Quantos monstros se escondem debaixo de cada pele?

Quantas mentiras foram necessárias pra criar quem achamos que somos?

 

Os caminhos se bifurcam

eternamente

como fractais.

 

Belos e confusos.

Encantadores e tortuosos.

 

Quantas vidas seriam precisas

pra entender o que uma vida significa?

 

Leveza e dureza.

Sorriso e tristeza.

 

Tudo

confusamente

se equilibra

 

e se refaz.

 

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Hoje eu tirei um cochilo no passeio público.

quinta-feira, março 26th, 2015

Hoje eu tirei um cochilo no passeio público.

Céu azul, sol de um lado, lua crescente do outro.

As nuvens branquinhas se espichavam, vapor em dança.

O macaco exibido dava saltos espetaculares de galho em galho.

Tiozão aposentado sentadinho no banco, onde as horas não importam.

No gramado, um casal novo se pegandinho. Dois meninos. Um mendigo dormindo.

E eu tirando um cochilo.

 

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jodorowsky e o [im]provável casamento entre espiritualidade e política

quarta-feira, março 25th, 2015

devaneios de uma noite insone


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Final de El topo, filme do Jodorowsky – o Jodô, meu terapeuta sem que ele o saiba. O cara, nosso protagonista, depois de uma longa e tortuosa e egocêntrica jornada, percebe que seu desejo de ser o melhor e vencer todos os mestres do deserto não valia de nada. Ele passa anos meditando como uma estátua e, sem saber, em seu transe, é adorado por anões fodidos presos em uma caverna. Um dia ele desperta e, frente a tanto sofrimento, resolve que tem que porque tem que ajudá-los a sair de lá. Coitados, lá, presos, excluídos do mundo. Aí ele vai pro mundo. Juntar dinheiro pra comprar dinamite pra conseguir escavar um buraco na montanha dos anões. Salvá-los.

Triste mundo. Terríveis pessoas. Escrota moral. Ele e sua companheira anã se submetem a recolher as migalhas dessa podridão. Eles juntam grana na rua e, assim, aos poucos, escavam o túnel. Quando finalmente o trabalho que parecia interminável termina, os anões saem todos da caverna, correndo, felizes – finalmente livres! Eles vão em direção à cidade, mas mal sabem eles o que lhes espera: gente com muito ódio portando armas.

São dizimados. Todos. Ou quase todos.

Nosso herói entra em desespero. Pega uma arma e começa a matar todo mundo. Toda essa gente escrota. Depois da matança, senta no chão e ateia fogo em si mesmo. Desilusão total: a abnegação, a entrega em prol dos outros, do que era certo, não adiantou de nada. Merda nenhuma. Gente podre, sociedade podre.

E a história recomeça – a cena final repete a inicial: um homem (filho do protagonista) monta num cavalo, igual seu pai fez, com uma mulher e uma criança, para desbravar o deserto. O ciclo se reinicia.

“Sofrimiento, consuelo, sofrimiento, consuelo”, diz  Jodô em seu último filme, La danza de la realidad, sobre a cadeia de dor e prazer que resume essa vida “mundana”. Maia. Ilusão.

Como romper o ciclo? Como?

A espiritualidade costuma ser entendida como a forma de superar essa ilusão. Faz sentido. Mas sem uma visão crítica da realidade ela não leva a nada, resume-se a misticismo egoísta. Nada, porque a iluminação não pode se dar sozinha. Desconfio que ela só pode vir de uma relação com o outro, com a vida, através de muita compaixão – capacidade de sentir como seu o sofrimento do outro.

Mas não adianta querer consolar quem sofre. É preciso encarar a lógica do sofrimento. A injustiça. A opressão.

Não adianta querer salvar o outro. Só o outro pode se salvar. Só o outro sabe como se salvar. Assistencialismos e paternalismos querem acomodar o lado mais ferrado dentro de uma lógica escrota. Mas é preciso mudar a lógica escrota.

(Mas quem sou eu para censurar os culpados? O pior é que preciso perdoá-los. É necessário chegar a tal nada que indiferentemente se ame ou não o criminoso que nos mata. Mas não estou segura de mim mesma: preciso perguntar, embora não saiba a quem, se devo mesmo amar aquele que me trucida e perguntar quem de vós me trucida. E minha vida, mais forte do que eu, responde que quer porque quer vingança e responde que devo lutar como quem se afoga, mesmo que eu morra depois. Se assim é, que assim seja.) *

Amor amor amor. Como conciliar o amor com a justa e necessária revolta? Aquela que se coloca contra o absurdo, o inaceitável, contra a expropriação da vida? É possível amar quem nos trucida? Antes de saber se é ou não possível: é desejável amar quem nos trucida?

Bhagavad Gita. Krishna aparece pra Árjuna e diz que ele deve encarar uma necessária batalha. Árjuna fica triste, pensa em todo o sofrimento que vai ser causado, todo sangue que vai ser derramado. Talvez fosse melhor ficar tranquilo, não confrontar, evitar a fadiga. Mas Krishna diz que não. Não se pode fugir de certos confrontos.

O casamento entre a consciência espiritual e política. Será possível? Será desejável? Me parece não só desejável, mas necessário. Que se fale bem alto a palavra amor, que se fale bem alto a palavra esquerda – aquele velho termo que serve para designar um olhar que vê as desigualdades do mundo, que não as aceita como naturais ou inevitáveis ou, ainda pior, como questão de mérito individual, de capacidade. A esquerda aponta o dedo e diz que o rei está nu.

Se o mundo alguma vez conseguir ser melhor, só o terá sido por nós e conosco. Sejamos mais conscientes e orgulhemo-nos do nosso papel na História. Há casos em que a humildade não é boa conselheira. Que se pronuncie bem alto a palavra Esquerda. Para que se ouça e para que conste. **

A esquerda passa por uma crise – a de se descobrir muitas esquerdas, a de se ver repetindo aquilo que critica, a de se pautar na competição e não na colaboração, a de se encerrar em ideologias que não dialogam com as pessoas e com a realidade. Necessária crise. Legítima crise. Mas não é hora de decretar o fim da esquerda (e, consequentemente, o fim da política?). É hora de reinventá-la(s).

Repensar o sentido das coisas. A maneira de se estar no mundo, de se relacionar com ele, com todos os seres. O tempo das coisas. Os ciclos naturais. Resgatar ancestralidades, sabedorias da terra, do espírito, do cosmos.

Desconfio que só a espiritualidade pode resgatar a política.

E que só a política pode realizar a espiritualidade.

 

 

 

* Clarice Lispector, A Hora da Estrela

** Saramago, aqui

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Trechos de Memorial do Convento, de José Saramago

quinta-feira, fevereiro 12th, 2015

Memorial do Convento, José Saramago. Lisboa, Editorial Caminho, 1982.

Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido. Era uma vez. (Texto da contra-capa)

 

Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôr alguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que estava comendo a luz, e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer, Por que foi que me perguntaste o meu nome, e Blimunda respondeu, Porque minha mãe o quis saber e queria que eu o soubesse, Como sabes, se com ela não pudeste falar, Sei que sei, não sei como sei, não faças perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê, E agora, Se não tens onde viver melhor, fica aqui, Hei-de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais e uma irmã, Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires, Por que queres tu que eu fique, Porque é preciso, Não é razão que me convença, Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar, Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o fizeste, Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo. (p. 56)

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A poesia de “Grande sertão: veredas”

quinta-feira, novembro 27th, 2014

Trechos de Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

VIDA

Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na ideia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do que em primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso? (p. 51)

O senhor já sabe: viver é etcétera… (p. 110)

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito – por coragem. Será? Era o que eu às vezes achava. Ao clarear do dia. (p. 334)

“Vida” é noção que a gente completa seguida assim, mas só por lei duma idéia falsa. Cada dia é um dia. (p. 414)

Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas. (p.429)

Ah, esta vida, às não vezes, é terrível bonita, horrorosamente, esta vida é grande. (p.438)

A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação – porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada. (p. 477)

Assim, de jeito tão desigual do comum, minha vida grangeava outros fortes significados. (p. 504)

Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo. (p. 601)

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O simbolismo astrológico do mito sagitariano: o centauro Quíron

quinta-feira, novembro 20th, 2014

Retirado de “O simbolismo astrológico e a psique humana”, de Luiz Carlos Teixeira de Freitas. São Paulo: Círculo do Livro, 1990, p. 314-5.

 

 

 

Quíron, meio homem e meio cavalo, representa numa só figura a sabedoria instintiva e natural do corpo e o acúmulo de conhecimento da humanidade.

Quíron vivia numa gruta no monte Pélion, onde ensinava música, a arte da guerra e da caça, as leis e, sobretudo, a medicina. Foi um famoso educador, tendo tido por discípulos alguns dos grandes heróis, entre eles Jasão e Aquiles. Possuía também o dom da profecia, mas teve um trágico desfecho: na tentativa de Hércules de capturar o javali do monte Erimanto (um dos doze trabalhos do herói), foi ferido acidentalmente no joelho (ou na coxa) por uma das flechas envenenadas de Hércules. Assim, apesar de mortalmente ferido – tais flechas haviam sido embebidas no sangue da Hidra – Quíron não podia morrer por ser imortal (filho de Cronos). Seu sofrimento foi profundo e longo, até que Zeus pediu a um mortal que cedesse a Quíron seu “direito de morte”.

Prometeu (o titã que roubou o fogo dos céus para entregá-lo aos homens e, por isso, amargurava seus dias no Hades, eternamente supliciado por um abutre que a cada dia lhe devorava o fígado) cedeu ao centauro esse direito, e Quíron ascendeu aos céus para a constelação de Sagitário, o Arqueiro, pois a flecha (“sagitta”, em latim) simboliza a síntese humana de voar por sua própria transformação, através do espírito mas a partir de sua condição animal.

A ferida fora inflingida na parte animal de Quíron e justamente na perna, que o apoiava sobre a terra; em outras palavras, em sua condição animal e não na de humano, assim como a hipertrofia do núcleo masculino excessivamente preocupado com ideais e noções de justiça costuma comprometer no sagitariano a integridade de seu núcleo feminino de emoções e sentimentos. No entanto, parece que a existência da “ferida” nas emoções e no corpo, que são o elo com a realidade, termina sendo soterrada pela atividade incessante do sagitariano em divertir-se e divertir as pessoas, provando a si mesmo e a elas sua “incrível felicidade”. Afinal, a pessoa deste signo “manifesta” Zeus, o mais ativo e “fertilizador” dos deuses; ao fundo de sua “caverna”, entretanto, reside o velho sábio Quíron, ferido mortalmente na perna mas sem chegar à morte.

Se é esse estado de eternamente ferido que dá ao sagitariano condições para os vôos de espírito e intuição emocional que certamente estão presentes no signo, quando não também para os traços de otimismo ilusório ou verdadeiro fanatismo por uma causa ou ideal, será também esse estado que o fará, algum dia, retornar ao seu corpo animal e às leis da natureza, com o que poderá integrar-se a si mesmo.

Então não dependerá mais, tanto quanto antes, de viver projetivamente (através da “esposa” ou, se for uma mulher, de outras) a natureza feminina à qual está ligado indissoluvelmente mas à qual se opõe; da mesma forma, não precisará mais, como antes, viver apenas no mundo etéreo e incorpóreo dos ideais de justiça e de sabedoria, o qual, se não tiver uma base na realidade material das emoções, não tem o menor sentido real.

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Jodorowsky’s Psicomagia

terça-feira, outubro 7th, 2014

Trechos selecionados do livro Psicomagia, a partir da experiência desse tiozinho chileno bruxo, cineasta, dramaturgo, roteirista de quadrinhos, psicomago – além de maluco, fofo e lindo – que é o Jodô.

 

Victor Brauner – Les amoureux – 1947
No quadro está escrito, de cima para baixo:
liberdade – futuro
magia – presente
destino – passado

 

El acto poético

¿Y cuál es la definición del acto poético? Debe ser bello, estético y prescindir de toda justificación. Puede también acarrear cierta violencia. El acto poético es una llamada a la realidad: hay que enfrentar a la propia muerte, a lo imprevisto, a nuestra sombra, a los gusanos que hormiguean dentro de nosotros. Esta vida que nosotros quisiéramos lógica es, en realidad, loca, chocante, maravillosa y cruel. Nuestro comportamiento, que pretendemos lógico y consciente, es, de hecho, irracional, loco, contradictorio. Si observáramos lúcidamente nuestra realidad, constataríamos que es poética, ilógica, exuberante. En aquellos tiempos yo era, sin duda, inmaduro, un joven descerebrado insolente; eso no quita que dicho período me enseñara igualmente a percibir la enloquecida creatividad de la existencia y a no identificarme con los límites dentro de los cuales la mayoría de la gente se encierra hasta que no aguanta más y revienta.

p. 23

 

El “doble”

La literatura universal concede un lugar importante al tema del «doble» que, poco a poco, expulsa a un hombre de su propia vida, se apropia de sus lugares favoritos, de sus amistades, de su familia, de su trabajo, hasta transformarlo en un paria e incluso a veces asesinarlo, según algunas versiones de ese mito universal. En lo que a mí respecta, creo que somos el «doble» y no el original.

[..]

Nos identificamos con ese doble tan irrisorio como ilusorio. Y de pronto aparece «el Original». El amo del lugar vuelve a tomar el sitio que le corresponde. En ese momento, el yo limitado se siente perseguido, en peligro de muerte, lo que es totalmente cierto. Porque el Original acabará por disolver el doble. En cuanto humanos identificados con nuestro doble, tenemos que comprender que el invasor no es sino uno mismo, nuestra naturaleza profunda. Nada nos pertenece, todo es del Original. Nuestra única posibilidad es que aparezca el Otro y nos elimine. No sufriremos de ese crimen, pero participaremos en él. Se trata de un sacrificio sagrado en el cual uno se entrega entero al amo, sin angustia…

p. 39

 

La vida como sueño lúcido

Puesto que soñamos nuestra vida, vamos a interpretarla y descubrir lo que trata de decirnos, los mensajes que quiere transmitirnos, hasta transformarla en sueño lúcido. Una vez conseguida la lucidez, tendremos libertad para actuar sobre la realidad, sabiendo que si sólo tratamos de satisfacer nuestros deseos egoístas seremos arrastrados, perderemos la ecuanimidad, el control y, por lo tanto, la posibilidad de hacer un acto verdadero. Para lograr divertirnos actuando, tanto en el sueño nocturno como en este sueño diurno que llamamos vida, hemos de estar cada vez menos implicados.
 
[Comentário del entrevistador] Ese distanciamiento que no impide ni la acción ni la compasión, pero no autoriza ni la codicia ni la sensiblería, se parece mucho a la sabiduría.

¡Desde luego! ¿De qué puede servirte vivir con tus sueños y hacer un esfuerzo para conseguir la lucidez sino para encontrar la sabiduría? La realidades un sueño en el que debemos trabajar a fin de pasar progresivamente del sueño inconsciente, carente de toda lucidez, y que puede ser una pesadilla, a lo que yo llamo el sueño sabio.

 

[Comentário del entrevistador] ¿Y el Despertar? Las tradiciones espirituales hablan de los que han despertado…

 

Despertar es dejar de soñar, desaparecer de ese universo onírico para convertirse en aquel que lo sueña.
p. 58

 

El acto psicomágico

Acceder a las dificultades de una persona es acceder a su familia, penetrar en la atmósfera psicológica de su medio familiar. Todos estamos marcados, por no decir contaminados, por el universo psicomental de los nuestros. Así, muchas personas asumen una personalidad que no es la suya, sino que proviene de uno o de varios miembros de su entorno afectivo. Nacer en una familia es, por decirlo así, estar poseído.
Esta posesión suele ser transmitida de generación en generación: el embrujado se convierte en embrujador, proyectando sobre sus hijos lo que fue proyectado sobre él… a no ser que una toma de conciencia logre romper el círculo vicioso.
p. 81

 

Salir de nuestras dificultades implica modificar en profundidad nuestra relación con nosotros mismos y con todo nuestro pasado. En estas condiciones, ¿quién está realmente dispuesto a cambiar? La gente quiere dejar de sufrir, pero no está dispuesta a pagar el precio, o sea a cambiar, a no seguir definiéndose en función de sus preciados sufrimientos.
p. 84

 

Porque, a fin de cuentas, se trate de tarot, de masajes o de psicomagia nada adquiere sentido sino por una fuerza única: la energía desinteresada que a veces impulsa a un ser humano a acudir en ayuda de otro ser humano. Se trata de una energía pura, simple y sutil.
p. 87

 

Cuando soy blanco, soy blanco; cuando soy oscuro, soy oscuro, y punto. Ello no impide que trabaje en mí, que trate de ser un instrumento mejor; esta aceptación de uno mismo no limita las aspiraciones sino que las sustenta. Porque sólo se puede avanzar a partir de lo que se es realmente.
p. 88

 

Actos psicomágicos

No es que con estos actos yo trate de resolver enigmas extraordinarios, me conformo con atender pequeños problemas humanos, pues ¿qué hay más misterioso e irracional que los pequeños problemas de unos y otros?
p. 90

 

La psicomagia no pretende ser una ciencia, sino una forma de arte que posee virtudes terapéuticas, lo que es totalmente diferente.

«Yo no busco, yo encuentro», decía precisamente Picasso. Encontrar es un hábito, una segunda naturaleza.
p. 92

 

[…] el orden perfecto sólo existe junto al desorden.

p. 96

 

«Sin confianza no se puede trabajar. Escribir una novela es como arrojarse desde lo alto de un edificio. Escribes sin saber adonde irás a parar. Quizá te recojan los bomberos, quizá no. Pero, si buscas ante todo la seguridad, tienes que bajar por la escalera. Ahí estás seguro, pero no escribes una novela.
Cuando uno pretende vivir la vida bajando por la escalera, no la vive. Llega un momento en el que hay que lanzarse»

Cuando se crea, hay que entregarse, dejar que la creación crezca como un hongo.

[Relato de um escritor que foi procurar Jodorowsky para receber atendimento psicomágico]

p. 97

 

Alejandro Jodorowsky, profesor de imaginación

Durante la mayor parte del tiempo no tenemos idea de lo que puede ser la imaginación, no concebimos siquiera la amplitud de sus registros. Porque, aparte de la imaginación intelectual, existe la imaginación sentimental, la imaginación sexual, la imaginación corporal, la imaginación económica, la imaginación mística, la imaginación científica… La imaginación actúa en todos los terrenos, incluidos los que consideramos «racionales». En todas partes tiene su lugar. Importa, pues, desarrollarla para abordar la realidad, no a partir de una perspectiva única, sino desde múltiples ángulos. Normalmente, visualizamos todo según el estrecho paradigma de nuestras creencias y condicionamientos. De la realidad, misteriosa, tan vasta e imprevisible, no percibimos más que lo que se filtra a través de nuestro minúsculo punto de vista. La imaginación activa es la clave de una visión amplia, permite enfocar la vida desde puntos de vista que no son los nuestros, pensar y sentir a partir de diferentes ángulos. Ésa es la verdadera libertad: ser capaz de salir de uno mismo, atravesar los límites de nuestro pequeño mundo individual para abrirse al universo.

p. 112

 

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Manifesto do êxodo urbano

segunda-feira, setembro 29th, 2014

Chakana, a cruz andina.

Acho tão ~engraçado~ que a opção por deixar a cidade e ir morar no interior seja frequentemente encarada como fuga, anarcoprimitivismo, socialismo utópico ou meramente isolamento. Enquanto isso, as cidades incham e toda engrenagem pra girar essa vida completamente desconectada, ansiosa, apressada e desvairada vai tratorando a base natural que precisamos para viver.

E aí moramos em caixas de sapato, andamos pelas ruas olhando para o chão, nos trancamos em carros que se enfileiram em congestionamentos e mantemos a rotina trabalho-entretenimento pra conseguir preencher todo esse vazio. Isso quando temos sorte: a grande maioria vive à margem de qualquer dignidade – segundo a meritocracia, culpa deles mesmos, esses vagabundos. Para “vencer na vida” é preciso ter capacidade; capacidade de ignorar a miséria alheia, de negar-se a ver que a riqueza de um é, inevitavelmente, construída sobre a miséria de outros.

Nosso estilo de vida nos faz doentes. Até nossa alimentação nos deixa doentes. E quando questionamos o sentido dessa loucura toda, dizem pra não complicar, buscar uma terapia, se esforçar para ter sucesso. Aceitar de bom grado as leis, as normas do chefe e os dogmas da família. Aliás, família! É bom você construir a sua para não acabar sozinho, para não ter que lidar com sua própria solidão e assumir a responsabilidade pela sua própria vida.

Cronicamente inviável. O modelo de vida de nossa sociedade é, simplesmente, insustentável. Ninguém vê? Ou não quer ver? É difícil. Dói.  Exige encarar muitas comodidades – comodidades, que, no fim das contas, não são assim tão cômodas. Ao mesmo tempo que foram naturalizadas, nos fazem sofrer. Mas estão tão entramadas dentro da gente que fazem parte do que somos. É preciso morrer um pouquinho para se transformar.

A reconexão com a terra, com os ciclos da vida, com as sabedorias ancestrais – que foram desprezadas em nome da ciência e exterminadas em nome do progresso – e sim, com nós mesmos e com os outros, é elemento crucial para superarmos essa mentalidade fracassada que separa ser humano e natureza, indivíduo e comunidade, entre tantas outras dualidades engessantes (como cultura e política…). É preciso buscar ser um pouco mais índio, ter um pouco mais de humildade frente à vida, conseguir enxergar que estamos em tudo e tudo está em nós. É para o bem do mundo, para o bem da vida, para nosso próprio bem. É questão de felicidade, mas também de justiça e sobrevivência.

É hora de ouvir o que a terra tem pra nos falar.

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