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Oscar Wilde: o prazer, o pecado e a crítica à aristocracia

quarta-feira, junho 10th, 2009

Em seu único romance, O Retrato de Dorian Gray, Wilde tratou da futilidade de seu tempo, refletindo muito da história de sua própria vida em sua obra.

Retrato de Oscar Wilde.

Retrato de Oscar Wilde.

Um jovem de beleza apolínea. Um pintor fascinado pela perfeição do rapaz. Um aristocrata refinado e envolvente, que incita o jovem a tomar consciência da sua beleza e do poder inerente a ela. A partir desses três personagens, uma obra-prima é conduzida, um caminho que parte da ingenuidade e deságua na ruína.

De acordo com os psicólogos, há momentos em que o desejo do pecado, ou do que os homens chamam de pecado, domina de tal modo a nossa natureza, que cada fibra do corpo e cada célula do cérebro parecem ser movidos por impulsos terríveis. Em tais momentos, os homens e as mulheres perdem sua liberdade e seu arbítrio. Dirigem-se como autômatos para seu fatal objetivo. O direito de escolher lhes é recusado e sua consciência está morta, ou, se ainda vive, é somente para emprestar atrativos à rebelião e encanto à desobediência. Pois todos os pecados, como sempre nos recordam os teólogos, são pecados de desobediência. Quando aquele espírito altaneiro, aquela estrela matutina do mal caiu dos céus, sua queda foi a de um rebelde. (O Retrato de Dorian Gray)

É um romance do desejo, da irrefreável sede de prazer e de toda imoralidade e ruína que acompanha o hedonismo egoísta. É também o retrato vazio de uma aristocracia improdutiva e luxuosa, que do alto de torres de futilidade e exagero vivia alheia às condições reais de seu tempo.

O retrato

Que momento maldito aquele em que o orgulho e a paixão o tinham impelido a implorar que o retrato suportasse o peso de seus dias para que ele pudesse conservar o esplendor imaculado da eterna juventude! Todas as suas infelicidades daí provinham. Melhor seria se cada pecado cometido trouxesse consigo sua punição rápida e segura. Há uma purificação no castigo. A prece de um homem para um Deus de justiça não deveria ser “Perdoai nossos pecados”, mas “Castigai-nos por nossas faltas”. (O Retrato de Dorian Gray)

Extravagante

Oscar Wilde nasceu na Irlanda em 1854, mas mudou-se jovem para a Inglaterra e passou seus últimos anos em Paris. Após o período universitário em Oxford, mudou-se para Londres, onde abusou da vida boêmia e ficou conhecido por suas excentricidades. Fundou o esteticismo, ou dandismo, movimento influenciado pela teoria da “arte pela arte”, defendendo a beleza como solução ao caos da sociedade humana. Foi convidado para viajar os EUA difundindo sua teoria, o que lhe proporcionou reconhecimento e fortuna.

Voltou à Inglaterra ainda mais extravagante. Casou-se, teve filhos e escreveu diversas peças. No auge de sua carreira, envolveu-se com um jovem aristocrata, filho de marquês, numa época em que o homossexualismo era proibido por lei. Após desgastantes processos judiciais, foi condenado a dois anos de prisão com trabalhos forçados, período no qual esvaiu-se sua saúde física e sua reputação artística. Após ser libertado, passou os últimos anos de sua vida em hotéis baratos de Paris, período esse de modesta produção literária. Durante a prisão e após ela, continuou alimentando, em sua alma e em prosa, a paixão que determinou o fim de sua liberdade e fama.

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