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O simbolismo astrológico do mito sagitariano: o centauro Quíron

quinta-feira, novembro 20th, 2014

Retirado de “O simbolismo astrológico e a psique humana”, de Luiz Carlos Teixeira de Freitas. São Paulo: Círculo do Livro, 1990, p. 314-5.

 

 

 

Quíron, meio homem e meio cavalo, representa numa só figura a sabedoria instintiva e natural do corpo e o acúmulo de conhecimento da humanidade.

Quíron vivia numa gruta no monte Pélion, onde ensinava música, a arte da guerra e da caça, as leis e, sobretudo, a medicina. Foi um famoso educador, tendo tido por discípulos alguns dos grandes heróis, entre eles Jasão e Aquiles. Possuía também o dom da profecia, mas teve um trágico desfecho: na tentativa de Hércules de capturar o javali do monte Erimanto (um dos doze trabalhos do herói), foi ferido acidentalmente no joelho (ou na coxa) por uma das flechas envenenadas de Hércules. Assim, apesar de mortalmente ferido – tais flechas haviam sido embebidas no sangue da Hidra – Quíron não podia morrer por ser imortal (filho de Cronos). Seu sofrimento foi profundo e longo, até que Zeus pediu a um mortal que cedesse a Quíron seu “direito de morte”.

Prometeu (o titã que roubou o fogo dos céus para entregá-lo aos homens e, por isso, amargurava seus dias no Hades, eternamente supliciado por um abutre que a cada dia lhe devorava o fígado) cedeu ao centauro esse direito, e Quíron ascendeu aos céus para a constelação de Sagitário, o Arqueiro, pois a flecha (“sagitta”, em latim) simboliza a síntese humana de voar por sua própria transformação, através do espírito mas a partir de sua condição animal.

A ferida fora inflingida na parte animal de Quíron e justamente na perna, que o apoiava sobre a terra; em outras palavras, em sua condição animal e não na de humano, assim como a hipertrofia do núcleo masculino excessivamente preocupado com ideais e noções de justiça costuma comprometer no sagitariano a integridade de seu núcleo feminino de emoções e sentimentos. No entanto, parece que a existência da “ferida” nas emoções e no corpo, que são o elo com a realidade, termina sendo soterrada pela atividade incessante do sagitariano em divertir-se e divertir as pessoas, provando a si mesmo e a elas sua “incrível felicidade”. Afinal, a pessoa deste signo “manifesta” Zeus, o mais ativo e “fertilizador” dos deuses; ao fundo de sua “caverna”, entretanto, reside o velho sábio Quíron, ferido mortalmente na perna mas sem chegar à morte.

Se é esse estado de eternamente ferido que dá ao sagitariano condições para os vôos de espírito e intuição emocional que certamente estão presentes no signo, quando não também para os traços de otimismo ilusório ou verdadeiro fanatismo por uma causa ou ideal, será também esse estado que o fará, algum dia, retornar ao seu corpo animal e às leis da natureza, com o que poderá integrar-se a si mesmo.

Então não dependerá mais, tanto quanto antes, de viver projetivamente (através da “esposa” ou, se for uma mulher, de outras) a natureza feminina à qual está ligado indissoluvelmente mas à qual se opõe; da mesma forma, não precisará mais, como antes, viver apenas no mundo etéreo e incorpóreo dos ideais de justiça e de sabedoria, o qual, se não tiver uma base na realidade material das emoções, não tem o menor sentido real.

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