Posts Tagged ‘poesia’

in bloom

sábado, fevereiro 21st, 2015

meu peito cresce tanto que preciso reaprender a respirar.

meus passos, sempre tortos. a coluna tenta se endireitar.

 

alguma coisa acontece no meu coração.

alguma coisa me faz abrir mão do não.

alguma coisa que sente. alguma coisa que chora.

alguma coisa que já não se esconde na solidão.

 

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Paranoia

segunda-feira, março 10th, 2014

 

Bater as botas.

Comer capim pela raiz.

Vestir o paletó de madeira.

Partir dessa pra uma melhor.

 

Morrer.

 

Aconteceu. Antes de dormir, no escuro, deitada na cama.

Em algum momento eu percebi, realmente, que sim, eu vou morrer.

Eu não vou mais existir.

E eu simplesmente não sei o que vai acontecer.

 

E pode ser a qualquer momento.

 

Pela primeira vez tive clareza disso, senti, soube. E tive medo. Muito medo.

Raul entende da morte. Engraçado que quando rolam esses revelações pessoais tão profundas sobre algo tão óbvio mas tão obscuro, normalmente Raul tem alguma coisa pra dizer sobre isso.

(Quando era criança eu achava muito esquisito imaginar que sempre tinha alguém vendo fazer tudo o que se faz dentro do banheiro.)

 

E pensei, sim, talvez o óbvio – mas o difícil óbvio -, que há de se conviver com a virtualidade da morte.

Até que ela se materialize. E o ciclo dessa individualidade se encerre.

 

Como?

Não sei.

 

Vivamos.

Ninguém morreu.

 

Dizem que um mestre espiritual conhece, de antemão, o momento de sua morte.

E consegue não enlouquecer com sua inexorabilidade.

 

 

Outro dia aconteceu outra coisa. Deitada na cama. Antes de dormir.

(Será essa a hora em que tudo acontece?)

Dessa vez a luz tava acesa.

 

eu ontem tive a impressão

que deus quis falar comigo

não lhe dei ouvidos

quem sou eu para falar com deus?

ele que cuide dos seus assuntos

eu cuido dos meus.

 

Paulo Leminski

 

 

Deus quis falar comigo, no teto do meu quarto.

Era como um pequeno redemoinho, uma tênue energia que girava.

Se movia, era vivo, ali, no teto do meu quarto, ao lado da luminária chinesa.

Ela se mexeu como se houvesse vento. Mas todas as portas e janelas estavam fechadas.

 

E eu tive medo. E não quis ver.

 

Ele que cuide dos seus.

 

 

 

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Poeminha da madrugada ou o que fazer da insônia depois de ler Paulo Leminski

quinta-feira, outubro 31st, 2013

Eu sinto
uma imensa vontade
de te abraçar

Eu sinto
uma ânsia
de viajar

Eu sinto
fome mas não tem
nada pro jantar

Eu sinto
que o tempo não volta
ao mesmo tempo que é circular

Eu sinto
que o sonho
não vai acabar

Eu sinto
que o mundo muda
mesmo que devagar

Eu sinto
que o amor existe
mas não sabe se mostrar

Eu sinto
muito.

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da constante crise

sábado, outubro 12th, 2013

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

De quando a vista molha e tudo sente.

 

A crise existencial bimestral. É mais fácil rotular assim.

Mas a verdade é que “os objetivos pessoais” me são muito pequenos.

Não consigo admirar verdadeiramente a segurança. Ao menos, não em mim.

 

Me encanta o salto. Porque a mudança é tão necessária. O universo é tão grande.

E o mundo dos humanos é tão triste. Belo porém triste.

 

Talvez, realmente, o meu maior egoísmo seja a vontade de querer ajudar.

E sinto que ajudo quando me permito simplesmente ser.

Sem os personagens sociais, sem as diversas máscaras que,

inconscientemente ou conscientemente, alterno.

 

Me cansam as obrigações, os egos, os horários, os ritos da eletricidade.

Me cansa o que esperam de mim. Me cansam os planos que, no fim, me faço.

 

Talvez seja muito romantismo. Ou fuga, como dizem os analistas sobre os que não se adaptam.

Mas talvez ainda seja que a vida que pulsa dentro de mim se entristece com a falta de vida disso tudo.

Quem sabe a loucura tenha mais sentido que essa sanidade doente.

Mas já estive nessa encruzilhada. Já neguei a loucura e a solidão.

Pertenço a esse mundo. Me sinto filha e mãe dele.

Filha rebelde. Mãe zelosa.

 

A responsabilidade frente ao mundo

e o ímpeto expansivo de vida

se chocam.

 

Entre asas e raízes

tem um coração sufocado.

Ficou um bom tempo preso na garganta,

se escondeu, se perdeu e já não sabe mais como voltar.

 

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Decreto da abolição do trabalho pelo reencantamento da vida

quinta-feira, julho 18th, 2013


no fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

Paulo Leminski

Dancer in the dark

 

Decreto proibido que se trabalhe por algo em que não se acredita.

Decreto proibido o trabalho como tal.

 

De hoje em diante, todas e todos serão obrigados

a exercerem atividades que tenham sentido para si,

sendo estas não mais denominadas “trabalho”.

O referido sentido não precisa ser necessariamente lógico,

podendo ser também intuitivo-afetivo, de caráter abstrato.

 

Este decreto é irrevogável, dados a supremacia da vida sobre o mercado

e o direito de nos realizarmos plenamente enquanto seres humanos.

 

Toda forma de imposição de função a ser exercida,

devido a constrangimentos materiais e/ou ideológicos,

será punida com sua imediata suspensão e teatralização musical,

com o objetivo lúdico-pedagógico de demonstrar sua incoerência,

e também prático, sublimando qualquer resquício de dominação.

 

Este decreto entrará em vigor a partir do momento

em que a humanidade aceitar a dor e a delícia de ser livre,

não mais dando espaço à opressão dos seres uns sobre os outros

e ao aniquilamento da poesia.

 

 

Planeta Terra, 4.532.769.054 volta ao redor do Sol.

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Insignificantes e sagrados ou A segunda versão do pecado original

domingo, julho 7th, 2013

“Esta vida é uma viagem pena eu estar só de passagem.”

Paulo Leminski

 


O terceiro monolito. Frame do filme 2001: A Space Odyssey.

Quero ler muitos livros, conversar com várias pessoas sobre várias coisas, conhecer muitos lugares, viver inúmeras experiências, ouvir milhares de músicas, fazer as conexões mais loucas dentro do meu consciente e inconsciente inseparáveis. Quero aprender astronomia, astrologias, agricultura, fazer tudo o que puder com cultura e comunicação, escrever de um todo e me transmutar sempre e mais. Quero me entregar a ritos ancestrais e me confrontar com ciências ocultas e tradições milenares. Quero conhecer várias maneiras de as pessoas viverem e se organizarem. Quero viver e me organizar de várias maneiras. Quero me libertar do relógio e da obrigação; da insegurança, da desconfiança, da auto-censura. Do medo e da culpa.

 

Alguns acham que eu não faço nada, passo a vida bem tranquila sem querer trabalhar.

Outros acham que estou sempre envolvida em mil projetos e mil viagens e mil sonhos e vontades.

Há ainda os que não se importam.

Todos eles estão certos.

 

Tantas e tantas ânsias que uma só vida vai ser pouco por demais.

Despertam o sonho da eternidade. Inveja de Deus?

 

As fascinantes versões da imortalidade, tediosa e maldita, de borges e beuvoir perdem seu sentido.

Não há maldição.

 

“Ouça, foi isso que aconteceu: eles mentiram, venderam-lhe ideias de bem & mal, infundiram-lhe a desconfiança de seu próprio corpo & a vergonha pela sua condição de profeta do caos, inventaram palavras de nojo para seu amor molecular, hipnotizaram-no com a falta de atenção, entediaram-no com a civilização & todas as suas emoções mesquinhas.”*

 

Desipnotizada, eu seria imortalmente encantada.

Onde não há condicionamento, não há tédio.

(mais…)

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de mentirinha

quinta-feira, maio 2nd, 2013

te quero como que só pra preencher um vazio
te quero talvez só porque inventei de te querer
te quero compondo em ti um mosaico de outros três
te quero porque não quero mais não querer

te quero porque não te tenho
porque a poesia está em te querer

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Vida, morte e sonho em Cecília

quinta-feira, dezembro 6th, 2012

Peguei esse livro, que aglutina Metal Rosicler e Solombra, para ler na casa da minha mãe. Me atravessou. Tive que copiar alguns trechos.  Cecília Meireles, saravá.

 

METAL ROSICLER

28

Sob os verdes trevos que a tarde
rossia com o mais leve aljofre,
tonta, a borboleta procura
uma posição para a morte.

Oh! de que morre? Por que morre?
De nada. Termina. Esvaece.
Retorna a outras mobilidades,
recompõe-se em íris celestes.

Nos verdes trevos, pousa, cega,
à procura de um brando leito.
Altos homens… Árvores altas…
Igrejas… Nuvens… Pensamento…

Não… Tudo extremamente longe!
O mundo não diz nada à vida
que sozinha oscila nos trevos,
embalando a própria agonia.

Que diáfana seda, que sonho,
que aérea túnica tão fina,
que invisível desenho esparso
de outro casulo agora fia?

Secreto momento inviolado
que ao tempo, sem queixa, devolve
as asas tênues, tão pesadas
no rarefeito céu da morte!

Sob os verdes trevos que a noite
no chão silenciosa dissipa,
jaz a frágil carta sem dono:
– escrita? lida? – Restituída.

32

Parecia que ia morrendo
sufocada.
Mas logo de seu peito vinha
uma trêmula cascata,
que aumentava, que aumentava
com borboletas de espuma
e fogo e prata.

Parecia que ia morrendo
de loucura.
Mas logo rápida movia
não sei que vaga porta escura
e, mais tênue que o sol e a lua,
passava entre fitas e rosas
sua figura.

Parecia que ia morrendo
em segredo.
Mas uma rumorosa vida
rugia mais que oceano ou vento
nas suas mãos em movimento.
Agarrava o tempo e o destino
com um ágil dedo.

Parecia que ia morrendo
e revivia.
E girava saias imensas,
maiores do que a noite e o dia.
Rouca, delirante, aguerrida,
pisando a morte e os maus agouros,
“olé!” – dizia.

36

Não temos bens, não temos terra
e não vemos nenhum parente.
Os amigos já estão na morte
e o resto é incerto e indiferente.
Entre vozes contraditórias,
chama-se Deus onipotente:
Deus respondia, no passado,
mas não responde, no presente.
Por que esperança ou que cegueira
damos um passo para a frente?
Desarmados de corpo e de alma,
vivendo do que a dor consente,
sonhamos falar – não falamos;
sonhamos sentir – ninguém sente;
sonhamos viver – mas o mundo
desaba inopinadamente.
E marchamos sobre o horizonte:
cinzas no oriente e no ocidente;
e nem chegada nem retorno
para a imensa turba inconsciente.
A vida apenas à nossa alma
brada este aviso imenso e urgente?

Sonhamos ser. Mas ai, quem somos,
entre esta alucinada gente?

SOLOMBRA

Eu sou essa pessoa que o vento chama,
a que não se recusa a esse final convite,
em máquina de adeus, sem tentação de volta.

Todo horizonte é um vasto sopro de incerteza.
Eu sou essa pessoa a quem o vento leva:
iá de horizontes libertada, mas sozinha.

Se a Beleza sonhada é maior que a vivente,
dizei-me: não quereis ou não sabeis ser sonho?
Eu sou essa pessoa a quem o vento rasga.

Pelos mundos do vento, em meus cílios guardadas
vão as medidas que separam os abraços.
Eu sou essa pessoa a quem o vento ensina:

“Agora és livre, se ainda recordas.”

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ermitando

segunda-feira, novembro 26th, 2012

minha nossa senhora dos ranzinzas incompreendidos,

livrai-me dos telefones e dos relógios.

amém.

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Lindolf Bell e O inventário

domingo, outubro 14th, 2012

Lindolf Bell é talvez o mais reconhecido poeta do Vale do Itajaí, lá de onde eu vim em Santa Catarina. Me espanta achar pouquíssimas de suas obras no universo online, e algumas com erros. Patético que meu acervo da adolescência tenha que servir de resgate para sua obra. Cá estou eu com uma pastinha cuja primeira página indica: “Meu poemas preferidos, poemas de minha autoria e textos da Academia de Mont Alverne” ( que era a academia de oratória do colégio em que estudei). Remonta ao ano 2000. E lá tem alguns poemas de Bell que copiei do livro do meu pai, acho que era “O código das águas”.

Aproveitei para corrigir o Poema tipo fichário de informações, que tinha copiado de alguma página online e estava errado. Meu acervinho pessoal tendo alguma utilidade… Fica a dica pra Fundação Cultural de Blumenau ou até pra Secretaria de Estado da Cultura…

De qualquer maneira, vale a leitura.

 

O inventário (mais…)

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