Devaneios de infância

Quando eu era criança, pensava como os carros seriam assustadores para quem viesse do passado, daquele passado onde só existiam cavalos e a carroça era o mais moderno meio de transporte. Grandes monstros sobre quatro rodas, grotescos, velozes e iluminados, comportando pessoas dentro. Nosso antecessor neste planeta faria oferendas ao deus da velocidade e da morte.

Também pensava como seria complicado voltar para o passado. Se uma máquina do tempo me transportasse à Idade Média, todos estranhariam minhas roupas. Se tivesse sorte de cair num lugar onde pudesse me comunicar, teria que explicar que vim do futuro. Contaria muitas coisas, desde guerras à invenção da televisão, um aparelho onde conseguimos ver imagens de todo o mundo na nossa frente. Falando em mundo, eu diria, vocês já sabem que ele é redondo?  Frase fatal. Considerada herege, morreria queimada na fogueira. Ainda tentaria me explicar, dizendo que realmente vim do futuro, podendo prever algumas coisas historicamente porque já havia lido nos livros de História. Simples: se você realmente veio do futuro, como ousa afirmar, construa essa tal de televisão, diria o inquisitor. Como nos nossos tempos modernos nunca sabemos como as coisas funcionam, só precisamos ter dinheiro para comprá-las, ficaria com cara de boba, e a multidão, insaciável, atearia fogo aos meus pés.

E os ETs, que tanto permeavam minha imaginação na infância! Eu pensava que o tempo de nossa vida era muito pequeno comparado com a deles. Nossa tão dramática e importante existência não passaria de um capítulo de novela, entretenimento antropológico para os seres intergaláticos.

Nostalgia, nostalgia… Me encanto com essa capacidade de se distanciar das coisas tidas como certas, de virar de ponta cabeça as regras básicas que norteiam o mundo dos adultos.

Nunca quero deixar de ser criança.

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