Reduto ecológico em risco em Florianópolis

A matéria abaixo foi originalmente publicada em meu antigo blog em 08/02/08. Sua reedição deve-se a um grande risco: há uma ação tramitando no Ministério Público que pretende transformar em estrada a trilha que percorri (ler matéria) para chegar ao Sítio Çarakura, local onde são desenvolvidas diversas atividades em formação e educação ambiental. A trilha é o percurso mais curto entre as duas maiores bacias hidrográficas e econômicas da ilha (Lagoa da Conceição e Rio Ratones).
O cenário atual de desrespeito ecológico no estado é assustador: o governo de Santa Catarina acaba de aprovar mudanças no Código Florestal que reduzem a proteção das matas. Enquanto o Código Florestal federal exige que o produtor preserve 30 metros de mata ciliar em pequenos rios e córregos, o catarinense diz que as propriedades acima de 50 hectares terão de manter apenas dez metros de mata.
Tal suicídio ambiental está causando sério atritos entre o governador catarinense, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), e o ministro do Meio-Ambiente Carlos Minc. Eles chegaram a ameaçar usar forças federais e estaduais um contra o outro.

(Fonte: http://www.parana-online.com.br/editoria/pais/news/366553/)

Paz, amor e natureza

Sítio Çarakura, distrito de Ratones, Florianópolis. Há cerca de três décadas Nei, um jovem de dezoito anos, trocou sua moto por um sítio. Paulistano, pensou em ir para Boston estudar música, mas terminou comprando um sítio em Floripa e estudando agronomia. “Música tem que ser só por prazer, não para vender”, disse Nei.

O sítio era praticamente só pasto. Hoje a área é repleta de árvores, frutas, flores e animais, graças ao trabalho braçal e às técnicas de permacultura e agrofloresta. Além de Nei e sua esposa Andréia, vários amigos fazem parte da família Çarakura. A arquiteta Sumara Lisboa é um deles, e ela foi a responsável pela organização de uma vivência ecológica no sítio, da qual tive o prazer de participar.

Permacultura
Fui buscar uma definição de permacultura no site www.permear.org.br. Aí vai:

“Os australianos Bill Mollison e David Holmgren, criadores da Permacultura, cunharam esta palavra nos anos 70 para referenciar um sistema evolutivo integrado de espécies vegetais e animais perenes úteis ao homem. Estavam buscando os princípios de uma Agricultura Permanente. Logo depois, o conceito evoluiu para “um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis” , como resultado de um salto na busca de uma Cultura Permanente, envolvendo aspectos éticos, socioeconômicos e ambientais.

Para tornar o conceito mais claro, pode-se acrescentar que a Permacultura oferece as ferramentas para o planejamento, a implantação e a manutenção de ecossistemas cultivados no campo e nas cidades, de modo que eles tenham a diversidade, a estabilidade e a resistência dos ecossistemas naturais. Alimento saudável, habitação e energia devem ser providos de forma sustentável para criar culturas permanentes.

Permacultura é algo fácil de identificar com um monte de desejos pessoais profundos entre aquelas pessoas que sonham com paz, harmonia e abundância. Nas palavras de Bill Mollison, a Permacultura é uma tentativa de se criar um Jardim do Éden, bolando e organizando a vida de forma a que ela seja abundante para todos, sem prejuízo para o meio ambiente.”

A vivência
Ratones é o último reduto rural da Ilha. A melhor maneira de chegar lá é pegar um barco na Lagoa e ir até a parada final. Daí é subir a trilha da Costa da Lagoa; chegando lá em cima, um prêmio pelo cansaço: uma vista maravilhosa. O sítio se encontra logo após a descida.

Entre as muitas atividades que praticamos, limpamos terreno para a horta mandala, plantamos as sementinhas, fizemos viveragem e terminamos de construir um forno de tijolos de barro. Também tivemos um dia só de passeio: fomos conhecer pessoas ligadas ao movimento ecológico de Florianópolis.


Construindo o forno: À direita, Nei e Sumara; à esquerda, Paulo e Nina, que também participaram da vivência.

Sumara foi nossa guia turística, e a primeria parada foi numa comunidade do Santo Daime, onde vivem 30 famílias. O lugar é lindo. Eles estão desenvolvendo novas maneiras de se relacionar com a natureza e com a sociedade, por meio das técnicas de permacultura e da pedagogia Waldorf, uma metodologia de ensino que integra a criança com o seu meio e supera a condição tradicional da pedagogia de transmissão de conhecimento aluno-professor, investindo na interação.

Depois fomos à casa de Rodrigo Primavera, um mestre em bambu e adepto da permacultura. A casa é linda: pequena, funcional e com a estrutura toda em bambu. Os móveis também são praticamente todos feitos de bambu: mesa, cama, sofá, luminária, porta Cd´s e muita coisa mais. Fomos muito bem recebidos, com direito a suco de maracujá da horta.


Estrutura em bambu

Passamos na tranqüila praia do Moçambique e seguimos para a casa de Márcio e Karina, que utilizam várias técnicas eco-sustentáveis, como a obtenção de energia solar, o banheiro compostável, o círculo de bananeiras, que reutiliza a água usada no banheiro, entre outras coisas. Fomos apresentados à Recicleide, personagem de Karina que trata, com muito humor, dos temas de reciclagem e consciência ecológica.


Moçambique


Moçambique de trás, tomada por Pinus

Devido à chuva que não dava trégua, nos últimos dois dias sofremos uma diminuída no ritmo de trabalho. O riozinho que passa ao lado da casa onde estávamos hospedados, completamente inerte quando chegamos, se transformou nas Cataratas do Iguaçu.


Cataratas do Iguaçu em Ratones

A vivência de cinco dias custou cinquenta reais, incluídos alojamento numa casa maravilhosa, construída pelo próprio Nei, alimentação farta, gostosa e saudável, preparada pela Dona Maristela, mãe da Andréia, além da beleza natural e do acolhimento dos moradores. Um excelente lugar para aprender mais sobre o relacionamento do homem com a natureza e para encontrar paz.

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10 Responses to “Reduto ecológico em risco em Florianópolis”

  1. mariana barossi disse:

    Michele:
    Muito interessante seu comentário sobre os 50m de mata ciliar na mesma matéria que fala do sítio Çarakura. Você parou para pensar que a casa sede do sítio fica a menos de 5 METROS do rio!!! Onde você ficou hospedada!
    Gostaria de saber como é feito para mandar todo o esgoto e água servida para longe desse manancial. Ou os banheiros estão hoje afastados da sede? (pois é a única forma de levar o coco para longe desta importante nascente).

    O discurso muitas vezes não se sustenta!

    • projetocancion disse:

      O sítio Çarakura trabalha com práticas de permacultura, e possui banheiros secos, cujos resíduos são tratados com métodos naturais e usados como adubo. Eles trabalham com estudantes de engenharia ambiental, que fazem cursos e apredendem essas práticas no sítio.

      Abraços,

      Michele.

  2. mariana barossi disse:

    Eu conheço a casa. E continuo achando um absurdo todo o discurso sendo que a casa está colada no rio. É errado. Apesar disso acredito que você tenha tido uma vivência maravilhosa. E agradeço a pronta resposta. Abraço, mariana.

    • projetocancion disse:

      Mariana, vc tem todo direito de achar um absurdo, mas eu tbm tenho todo direito de achar um absurdo vc achar um absurdo. Como disse no post, aquela área era apenas pasto, e foi recuperada com muita dedicação e respeito à natureza. Aprendi muito lá, com o pessoal do sítio e seus parceiros, e sou uma de muitos. Se vc conhece a casa e já esteve lá, vá novamente, converse com eles sobre suas preocupações, depois me conta.

      Acredito que homem não precisa se isolar da natureza, mas tem q viver em harmonia com ela, ser parte dela. Esses são os fundamentos da permacultura, desenvolvida e disseminada no Çarakura.

      Abraços,

      Michele.

  3. Na preservação da natureza, devemos cuidar para não cairmos no fanatismo ou extremismo, lembrando que também somos parte da natureza, e dependemos dela para nossa sobrevivência.
    O conceito de poluição deve ser entendido como o excesso ou desequilíbrio. Fezes não são veneno mas, o excesso de fezes, como os esgotos, num curso d’água pode destruir a vida.
    Seria extremismo dizer que próximo de um curdo d’água não pode haver uma habitação humana.
    Seria sensato dizer que próximo de um curso d’água só pode haver um determinado número de habitações, de um determinado tamanho e, integradas com a natureza.
    Antes de criticarmos o descaso das autoridades e, os erros que os outros cometem, devemos nos perguntar o que temos feito pela natureza, quantas árvores plantamos.
    Antes de jogar o problema para outras pessoas, devemos nos perguntar se estamos dando ao nosso lixo o destino adequado, como algumas pessoas fazem.
    Acióly Netto – http://www.guiadiscover.com – tel. 048 – 99933869

  4. Acioly Netto disse:

    Políticos idiotas e inconseqüentes, aliados aos seus desonestos e ambicioso patrocinadores, apresentam seus motivos para destruir a natureza citando supostos benefícios para o povo, quando na verdade a intenção é obter lucro para eles.

    Vendo desta forma o que eles denominam progresso, temos a impressão que no passado todos eram infelizes sem estas obras. Esta corja de desonestos, e acéfalos, não sabem, nem tentam solucionar problemas eliminando as causas, mas criando um problema ainda maior.

    Antigamente todos viviam muito bem sem energia elétrica.
    Alguém sobreviveria sem água? Sem oxigênio?

    Trocam o dia pela noite, logicamente que precisará cada vez mais energia elétrica.
    Por que um shopping só começa funcionar ao meio dia, e fica aberto até a meia noite?
    Por acaso a luz do dia não é tão boa quanto a luz elétrica?

    Por que será que não investem no controle da natalidade, a causa de tudo?

    Você quer saber a resposta? Leia o texto no endereço a seguir: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3110066

    Para não errar nunca, sabe de que lado devemos ficar?
    Ao lado da nossa mãe natureza!

  5. Adriana disse:

    Michele…

    Começo pelos seus deslizes no nosso idioma…Lagoa (com l),Cataratas (com c) do… e decida em vez de descida, vacilos de digitação?
    Melhor não tornarmos público os erros que vemos crescer, assustadoramente, nos meios de comunicação, confundindo ou solidificando equívocos.Se há a forma correta de se grafar as palavras…Acho que não gostamos quando escrevem ou falam nossos nomes erradamente.
    Foi o que registrei na minha rápida leitura.

    A Mariana, me parece, radicalizou um pouco…me parece que uma ou várias pequenas propriedades não podem ser comparadas a latifúndios. Diria que até por uma questão de segurança, 5m à beira é extremamente perto do curso do rio.
    Mas gostei muito de suas dicas.
    Um abraço

  6. michele disse:

    Adriana, primeiramente obrigada pela visita e pela atenção com que leu o post. Ele contém sim alguns erros de grafia, sendo que trata-se de um blog independente que não conta com edição, somente com a vontade e a paixão desta que vos escreve. Vou aproveitar para corrigir, mas confesso que não sou partidária do mesmo preciosismo que vc – são inúmeros os exemplos daqueles que com sua própria maneira de se comunicar mostraram que não necessariamente a arte e a comunicação precisam responder às regras formais da nossa língua – as formalidades muitas vezes acabam sendo grilhões criativos, além de uma forma elitista de distinguir “iluminados” e desvalorizar sabedorias populares.

    Abraço!

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