Paraisópolis – poema desabafo

Paraisópolis 04/02/2009

Os passarinhos eu não os tenho ouvido

Todos devem estar acuados em algum cantinho verde descoberto neste território

Hoje tem cavalaria, tem cachorro bravo

O som agora é papapapapapapapa

Há um pássaro de aço sobre a minha cabeça

Sobre a favela este som que faz a vigília todo o tempo

Nas entradas, tudo que é camuflado esta explícito

Todos uniformizados

 Lá o aço também se faz presente em formato de fuzil

 Do céu o som

 Dos lados, a imagem do uniforme camuflado, o controle

 Aqui dentro, uma só pressão

No peito, na garganta, nos olhos

E no estômago

As pessoas passam olhando para o chão, suas caras estampam a tristeza imposta

A rua que é sempre cheia, com as pessoas de roupas coloridas, está quase vazia

Pouco movimento

Não agüento mais esta máquina na minha cabeça

papapapapapapapa

A cidade Paraíso no seu antagonismo máximo

Contradições, desproporções, uma cadeia ao ar livre,

Contradição…

Os contra e os a favor

Uma garota me diz ao telefone

“Desculpa, ontem eu não fui à aula por causa da guerra”

Escuto e não acredito, aquilo parece um raio dentro de mim.

A guerra

É isto olha, escuta …….. papapapapapapapapa

Ele não para

Vigia este povo, esta gente com a pele escura

 Esta gente quase nua, vigia, controla

A guerra,

É só isto

Aqui são 80 mil, e o espaço…. só  um pedacinho de chão

assim ….o Paraíso

Paraisópolis

Todas as pessoas vigiadas, todas as lotações verificadas, cada sacolinha que a  humilde senhora carrega tem que ser mostrada, as casas invadidas para averiguações

Humilhação

Por cima, pelos lados, controle, opressão

Debaixo está a pressão, vai explodir, vem explodindo, 

E assim vem aquela força e os meninos vão

Seus atos são vândalos, mas o seu inconsciente não

Traz dentro de si o arquétipo do cabresto, a humilhação, a miséria de seu povo,

Lamentavelmente o seu grito é assim… visceral, irracional, é na paulada, tijolada,

Foram vândalos, marginais,

Os meninos sem escolas, nem estas de mentirinha que a gente conhece eles tem, destituídos de muitos direitos

A pressão cresce, e é também um sentimento mesclado, camuflado, que a gente não explica bem

Pressão crescente, desta vez de baixo para cima

Explode em pauladas, tijoladas, incêndios, caos

Atos vândalos

 

A cidade Paraíso esta em explosão

Razão?????

É a guerra tia

È a guerra….

papapapapapapapapapa

 

 

Poema-desabafo de Diane Padial, caminhante da Expedición Donde Miras que trabalha em Paraisópolis.

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3 Responses to “Paraisópolis – poema desabafo”

  1. Amarelo disse:

    É, paraisópolis na sua contradição. O mundo inteiro numa grande contradição. Que caminho seguiremos? Será que ninguém percebe que chegou a hora de parar e refletirmos sobre a nossa própria condição?

  2. projetocancion disse:

    Não sei se pensam, mas todos sentem, é inevitável. Mas existem milhares de justificativas e distrações, e o individualismo – junto com o sentimento de medo e de ter as mãos atadas – vence. É preciso pensar, pegar emprestado o pensamento daqueles que viveram e pensaram muito, pra fazer alguma coisa, mas sem errar na mão. É, a parada não é fácil

    …a esperança dança
    na corda bamaba de sombrinha
    e em cada passo dessa linha
    pode se machucar
    azar, a esperança equilibrista
    sabe que o sohw de todo artista
    tem que continuar…

    Mas vamo aí!
    Abração Amarelo!

  3. rogério jordão disse:

    Bom, não tenho uma boa poesia para oferecer, mas algumas informações (algumas de pesquisas) sobre esta complexa temática de violência & favelas, postei em :
    http://rogeriojordao.wordpress.com/
    pode interessar, quem sabe…
    abs,
    Rogério

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