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A poesia de “Grande sertão: veredas”

quinta-feira, novembro 27th, 2014

Trechos de Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

VIDA

Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na ideia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do que em primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso? (p. 51)

O senhor já sabe: viver é etcétera… (p. 110)

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito – por coragem. Será? Era o que eu às vezes achava. Ao clarear do dia. (p. 334)

“Vida” é noção que a gente completa seguida assim, mas só por lei duma idéia falsa. Cada dia é um dia. (p. 414)

Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas. (p.429)

Ah, esta vida, às não vezes, é terrível bonita, horrorosamente, esta vida é grande. (p.438)

A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação – porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada. (p. 477)

Assim, de jeito tão desigual do comum, minha vida grangeava outros fortes significados. (p. 504)

Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo. (p. 601)

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