Archive for the ‘Fotos’ Category

Viajeros – Troca de pele

quarta-feira, junho 4th, 2008

É uma tarefa muito árdua a que me proponho: perceber e refletir culturas. A subjetividade da vida me surpreende, me assusta e, acima de tudo, me fascina. Como posso transmitir algo que só eu percebo? Como posso chamar meu ponto de vista de realidade? Quem sou eu para julgar, mesmo que nesse caso o julgamento tenha aspecto de análise?

Conhecer a dor, a luta e a força dos Sem-Terra já mudou a cor de meus olhos. Quem dirá um ano cruzando continentes?! Já fui muitas Micheles, ainda encarnarei muitas outras, até chegar a ser nenhuma. Queria apreender a alma do povo paraguaio, mas nem sei se tal coisa existe – fronteiras artificiais que separam os humanos são romantizadas e enaltecidas, mas no fim geram mais guerras que unidades.

Sei que quero conhecer pessoas, sentir o outro – quem sabe até ser o outro, descobrir terras nunca dantes desbravadas dentro de mim. Sei que há uma hegemonia parasita mundial. Acredito na união latino-americana para que tenhamos autonomia e possibilidade. Mas a revolução, aquela que sensibilizará a mesquinhez da Terra (ou terra) não se fará com armas. A verdadeira revolução se dará (ou, infelizmente, não) na consciência. As armas não acabam com o medo e o egoísmo. O auto e alter conhecimento, creio que sim.

Estou abrindo minha pele, expondo minhas entranhas – no meio de tantos questionamentos, esse é agora meu norte. Mas minha bússola é caprichosa (ou despretenciosa) e pode apontar sua seta para qualquer direção a qualquer momento.


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Esse texto faz parte do livro Viajeros, que foi publicado em posts nesse blog.

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Joseca – Cláudio

segunda-feira, junho 2nd, 2008

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Em chamas

segunda-feira, junho 2nd, 2008

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Joseca – O diretor…

segunda-feira, junho 2nd, 2008

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…está nu!

segunda-feira, junho 2nd, 2008

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“Isso é uma calça ou um saco?”

segunda-feira, junho 2nd, 2008

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Silenciosos vizinhos

sábado, maio 31st, 2008

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Bichos da ilha

sábado, maio 24th, 2008


bicho grilo


dada a largada


eu acho que eu vi um gatinho…


numa relax

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Viajeros – Pobre (e rico) Paraguai

domingo, maio 18th, 2008

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Hoje fomos a duas cidades próximas de Assunção, Areguá e Ypacaraí. Areguá é a capital do departamento central (os departamentos são equivalentes aos estados no Brasil), o mesmo ao qual pertence Assunção, a capital federal. Ironicamente não passa de uma vila, uma cidadezinha típica de interior, constituída por uma praça, uma igreja, a prefeitura e poucas ruas. Muito charmosa, é repleta de artesanato típico, construções pertencentes ao Patrimônio Histórico Cultural e uma gente muito receptiva.  Também estivemos em Ypacaraí.

Com poucas exceções, como Assunção e Cidade de Leste, os municípios paraguaios são pequenos e pouco “desenvolvidos”. Existem somente duas rodovias no país, e quase todas as cidades localizam-se às suas margens. Beirando Assunção, várias cidades compõem a região metropolitana. Todas residenciais, alimentam-se da capital. Uma delas é Lambaré, onde estamos hospedados na casa da Ali.

A divisão das classes sociais é nítida: pelo modo de vestir, agir e falar – em grande parte devido à influência do guarani. Nos colégios elitizados, os estudantes são repreendidos quando usam expressões em guarani. Os pertencentes às classes sociais mais baixas têm o guarani como língua-mãe, e mesmo quando aprendem o espanhol suas origens continuam aparentes. Eles são discriminados, não conseguem bons empregos. Nem mesmo podem ser telefonistas ou atendentes, porque não são considerados apresentáveis.

O espantoso é que grande parte da população não fala o espanhol, o que demonstra quão estreitas são as portas da ascensão social. Os únicos que têm chance são aqueles que, por sua aparência, passam por ricos e modernos. Mesmo aqueles que têm um bom nível econômico, mas moram no interior, ocupam posição subalterna na escala social. É uma questão de se saber portar – “ter classe”.

Aqui a corrupção é firmemente institucionalizada. O ex-ditador Stroessner morreu, mas a hegemonia de quatro décadas do Partido Colorado continua, assim como a concentração de renda, as situações precárias de educação e saúde, os problemas de infraestrutura e a ineficácia do governo. Infelizmente são essas as expectativas para os países latino-americanos. Um povo com uma cultura tão rica, marcado pela exploração histórica, que “sofre com os dentes cerrados”, como disse Eduardo Galeano – mas que, apesar de tudo, resiste. E a diversidade cultural, que em meio a tantas dificuldades persiste e floresce, é sintoma e resultado desse contínuo re-existir.

 

Esse texto faz parte do livro Viajeros, que foi publicado em posts nesse blog.

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Back to the city

quarta-feira, maio 14th, 2008


…vejo os pombos no asfalto, eles podem voar alto, mas insistem em catar as migalhas do chão…

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