terça-feira, 6 de abril de 2010

Em película

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Quase uma raridade hoje em dia…

Fotos das filmagens do curta-metragem curitibano Rua José Cadilhe, uma produção da Asteróide Filmes.

Em película. Preto e Branco. Recém revelado.

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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Tudo meu

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Sinto que penso que sei o que acho que sonho
Ouço o silêncio noturno contar-me segredos do tolo e do rei

Fecha os olhos
Sente o cheiro
A rosa que surge na praça brotou no cimento e se ergue no ar

A poesia, a rua, o beco
o castelo e o pedreiro
a bruxa e o cocar

É tudo meu
É meu cantar

O tempo parado na sala
o pão e a mortalha
o medo de amar

É tudo meu
É caminhar

É o equilíbrio entre o chão e o Universo
na tênue linha que corta o ar

Mal sei o que sou,
identidade entre névoas,
pistas discretas indicam meu Eu

Cultivo com carinho
os retalhos que me criam
colagem efêmera de fotografias de Deus

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terça-feira, 23 de março de 2010

Viajeros – Um circo armado pra me convencer

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Meus amigos e minhas amigas que sonham em conhecer Machu Picchu, sinto informar que a melhor palavra que encontro para definir esse sítio arqueológico dominado pelo turismo é: palhaçada. Bom, vamos começar do começo, ou seja, como chegar lá. Há três opções: pagar o olho da cara e ir de trem de Cusco a Machu Picchu Pueblo; pagar o olho da cara e fazer a “trilha  do Inca”, que dizem ser muito bonita – três dias de caminhada passando por várias ruínas; ou, finalmente, fazer o caminho do andarilho sem grana. Nem preciso dizer que escolhemos a terceira opção.

Como chegar a Machu Picchu de classe econômica

No caminho para as águas termais de Santa Tereza

No caminho para as águas termais de Santa Tereza

Primeiro passo: pegar um ônibus de Cusco a Santa Maria. Você chega lá agradecendo por estar vivo depois de passar por penhascos em estradas de terra deslizante. Aliás, depois de viajar pela Bolívia e pelo Peru, você já se acostuma a esperar qualquer coisa de uma viagem de ônibus. De Santa Maria é necessário ir a Santa Tereza, cruzando montanhas numa estradinha de terra à beira do abismo dentro de uma kombi lotada, passando por povoadinhos de quatro casas que parecem todos iguais – infinitos deja vus. “Ai meu Deus do céu, ai meu Jesus amado” – a criação católica aparece nesses momentos, e o patético medo da morte também. Pior foi na volta, de noite, o motorista alucinado descendo as montanhas como um caubói em dia de rodeio.

Santa Tereza é uma vila tranquila, que apesar da altitude elevada é úmida e quente. Depois de muito tempo víamos uma vegetação tropical, com bananeiras e também muita chuva. Para recarregar as energias, uma boa pedida são as águas termais. Armamos acampamento no próprio local de banho, à noite as piscinas foram só nossas. Mas não era piscina azulzinha não, era de pedra com fundo de areia, mais natural impossível. Delícia.

A etapa seguinte da jornada consiste em caminhar até o trilho do trem, o que leva umas duas horas – também existe um caminhão que faz o transporte para lá. Mas antes disso é necessário sair de Santa Tereza, e o bagulho é roots: um rio vociferante a atravessar – e não é pela ponte: o veículo é uma cesta de madeira pendurada num cabo de aço. Você senta na cesta, ajeita a mochila atrás, e vai deslizando até a metade – rio estupidamente nervoso, mas concentração! – tem que puxar a corda para chegar até a outra margem. Dá medo, mas é bem divertido.

Chegando no trilho do trem, mais três ou quatro horas de caminhada. Aí já é mata fechada. Montanhas verdes, rodeadas no topo por densas nuvens de vapor. É difícil ver o céu azul. Há nuvens o tempo todo e chove quase o tempo todo. O lugar é alucinante – pequenos vales cobertos por selva e água brotando por todos os lados; rios caudalosos, ferozes, indomáveis.

O dia em que não conhecemos Machu Picchu

Vista de Machu Picchu Pueblo, no caminho entre a cidade e as ruínas.

Vista de Machu Picchu Pueblo, no caminho entre a cidade e as ruínas.

Novamente encontramos Lucas e Luciana, o brasileiro e a chilena, dessa vez em Cusco. Eles nos passaram um esquema de como entrar em Machu Picchu sem pagar nada: no final da subida para as famosas ruínas, pegar uma trilha no mato que leva até o muro, pular discretamente e se mesclar aos turistas. Na primeira tentativa, num dia pela manhã, fomos barrados no controle da ponte, no sopé da montanha – único caminho para a trilha. Ficamos sabendo que de madrugada não havia vigilância. Fomos lá pelas cinco da manhã – mas, para nossa surpresa, o guardinha já estava no batente.

Decidimos comprar o ingresso mesmo, Lucas e Luciana deviam ter tido sorte, afinal nem nos haviam falado desse controle. No guichê, apresentamos nossos documentos da universidade e o passaporte. “Só aceitamos a carteirinha internacional de estudante”, falou maquinalmente o atendente. “Mas isso comprova que somos estudantes, tem números e carimbos”, argumentei. “Nós só aceitamos a carteirinha internacional de estudante, são regras da empresa”. Tentei mais um pouco, expliquei a situação, mas nada feito. A meia-entrada custa 60 soles, ou seja, a inteira sai por absurdos 120 soles (aproximandamente 80 reais). Confesso que até tínhamos o dinheiro, mas era exploração demais! Optamos por tentar entrar na surdina uma última vez.

No dia seguinte, saímos às três horas da manhã. Um casal de argentinos nos passou os tickets usados deles – com a data do dia anterior e a metade já destacada, mas enfim, poderia ajudar. E, novamente, o guardinha já estava lá. Eu fiz alguma pergunta besta e me pus a olhar o rio e as árvores enquanto ele pedia as entradas para Thiago, que lhe entregou os tickets dos argentinos. Ele pegou sua lanterna e olhou bem as entradas: obviamente percebeu a situação, mas deixou a gente passar. Ufa, que alívio, depois dessa eu tinha certeza que tudo daria certo, que entraríamos de graça em Machu Picchu.

A subida é uma escada de pedras do tempo dos incaicos, no meio da floresta, que vai cruzando a estrada por onde o ônibus-para-turista-com-ar-condicionado-cujo-o-preço-é-um-absurdo passa. É degrau que não acaba mais; para mim, que ainda não estava 100% depois de vinte dias de cama, foi muito cansativo.

A indicação era que deveríamos desviar para a trilha na segunda barraquinha de palha. Pegamos uma entrada na mata em frente à barraca, andamos, andamos e chegamos em outro ponto da estrada e nada de muro. Não podia ser por ali. Voltamos e descobrimos uma trilha ainda mais fechada atrás do quiosque para descanso. Tinha hora que nem dava para ver os pés, de tanto mato. Depois de um certo esforço, chegamos ao muro. Justamente no momento em que eu estava encaixando meus pés nas pedras, já me preparando para pular, surgiu um vigilante.

– Ei, o que vocês estão fazendo aí?

– Explorando novos caminhos – disse Thiago-cara-de-pau.

Nós nos explicamos, contamos que tentamos pagar meia-entrada e não aceitaram nossos documentos, que achávamos um absurdo ter que pagar 120 soles simplesmente para poder entrar e coisa e tal. O senhor veio com uma história que nos levaria até a administradora e falaria com ela para que pagássemos meia-entrada. Cruzamos o sítio arqueológico atrás dele – que lugar impressionante. Chegando à administração, ele apontou a sala e deu meia volta.

A administradora cuspia prepotência, se deliciava com a pequena autoridade que lhe foi outorgada. Entre as grosserias e frases tiradas do discurso oficial, ela disse que tínhamos que pagar ou seríamos deportados e, depois de certa insistência, aceitou analisar nossos documentos da universidade. Para melhorar ainda mais a situação, os documentos tinham ficado no hotel. Thiago desceu a longa escadaria, foi ao povoado, voltou, subiu tudo de novo, e colocou os papéis em cima da mesa dela. Eu tinha um documento no qual constava que eu estava viajando fazendo meu trabalho de conclusão de curso – havíamos tomado essa cautela antes de partir. Thiago, além deste, tinha ainda sua declaração de matrícula – a minha havia ficado no albergue em Cusco.

“A sua documentação eu posso aceitar”, disse a ele, “mas a sua não”, declarou me fitando. Insisti que o documento continha meu número de matrícula. Ela não suportou o que considerou uma afronta. “Você acha que eu sou estúpida? Eu já li esse texto e isso não serve, pois você pode estar fazendo um curso sem ser aluna”. A discussão era algo inadmissível. Não adiantava argumentar que para ter um número de matrícula e para fazer um trabalho de conclusão de curso de graduação eu tenho que ser o que se considera oficialmente uma estudante universitária.

Já tinha perdido toda a graça, toda a mística. Eu ía pagar 120 soles para quê? Como a própria administradora frisou, “aqui só pode entrar quem pode pagar”. E o mais irônico é que se trata de um Patrimônio Universal da Humanidade. Nome bonito…

Em Machu Picchu Pueblo (antiga Águas Calientes, que teve seu nome mudado num golpe de marketing) os únicos peruanos são os que mantêm a engrenagem do turismo funcionando – garçonetes, cozinheiros, pedreiros e balconistas, com raras exceções. Enquanto a parte turística é toda colorida e “bonitinha”, o lugar onde eles vivem, do outro lado de uma pequena ponte, é cinza e pobre, como em outra cidade qualquer. Para quem vão os milhões faturados em cima das ruínas da civilização que foi dizimada sob a bandeira dessa mesma lógica, que só enxerga cifrões?

Dane-se Machu Picchu. Eu cortei a onda da administradora, afinal estávamos do lado de fora do muro quando o vigilante apareceu e nos convenceu a entrar – ele podia ter simplesmente mandado a gente embora. Sendo assim, não havíamos invadido nada. Thiago, mesmo podendo pagar meia, não quis entrar também. Sinceramente, não me arrependo. Não havia mais clima, ia ser tudo falso demais. Cultura ancestral transformada em caro souvenir.

Mas havia ficado a vontade de conhecer um pouco mais dessa antiga civilização. Já na última parada do caminho de volta para Cusco, conversando por acaso com um senhor da região, comentamos sobre nossa tentativa frustrada em Machu Picchu. “Aqui perto há outras ruínas, em algumas não precisa nem pagar”, ele disse. Foi assim que fomos a Ollantaytambo.

 

Esse texto faz parte do livro Viajeros, que foi publicado em posts nesse blog.

Veja o post anterior.

Veja o próximo.

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terça-feira, 16 de março de 2010

Águas de Santa Bárbara

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Pequena queda de boas-vindas - olha a cor dessa água

Pequena queda de boas-vindas - olha a cor dessa água

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A força e a pureza das águas

A força e a pureza das águas

Cachoeira Santa Bárbara.
Chapada dos Veadeiros, dezembro de 2009.

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quarta-feira, 3 de março de 2010

Poesia, cultura e arte pelos poros abertos da América Latina

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Assista o vídeo da Expedición Donde Miras – caminhada cultural pela América Latina.

Donde miras: De la periferia de Sao Paolo a Latino América from desinformémonos on Vimeo.

Publicado no portal alternativo colaborativo Desinfomémonos.

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sábado, 6 de fevereiro de 2010

Céu estrelado de aranhas

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Cavalcante, Goiás
Dezembro de 2009

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Para quem?

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Casa de Cultura de Paraty, eu e os funcionários

Nos quadros que retratam a colonização,
somente nomes de pintores europeus

“Engraçado que é sempre os outros que contam a nossa história”, desabafei

… silêncio …

“Não tem arte indígena?”

“Ahn?”

“Arte indígena.”

“O quê??”

“A-r-t-e i-n-d-í-g-e-n-a!”

“Acho que tem uma peça de artesanato lá em cima.
Mas foram os espertos que contaram a história.
Os índios não tinham papel e pincel.”

Artesanato indígena
no chão das ruas

Arte branca
em galerias e museus

Pedras, igrejas
e casarões coloniais
Macaquinhos pulando
sobre telhados e quintais

Montanhas de Mata Atlântica,
porto e cachoeira
Paraty, mas não para aqueles
de pele amarela e negra

Paraty, gringo
Paraty, elite branca

Paraty

mas não para nós

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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Donde Miras – Sarau em Maresias

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Binho no sarau na Praça do Surf, em Maresias

Binho no sarau na Praça do Surf, em Maresias

Perfil de Jesus

Perfil de Jesus

Trampos de Raíssa e músicos caminhantes

Trampos de Raíssa e músicos caminhantes

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Bandeiras Donde Miras

Bandeiras Donde Miras

Coco

Coco

A roda

A roda

Veja mais sobre a Expedición Donde Miras aqui

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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Donde Miras – A passos largos

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Faz mais de quinze dias que saímos de Santos. Podiam ser trinta, quinhentos ou 20347 dias passados. O tempo Donde Miras é outro, não se mede em calendários ou relógios. Estamos há muito tempo caminhado? Pouco? Quantos quilometros andamos? Quantas reflexões surgiram? Quantas ideias se derreteram e se metamorfosearam? O olhar vai além e não se prende a números e convenções.

Poetas, palhaços, espanhóis, músicos, argentinos, atores, a cambada da Zona Sul e até uma menina do sul que não hesita em vir a cada caminhada. Somos um, mas somos tão diversos. “Na poesia e na pura ritmia, a família é Donde Miras e o que eu quero é andar”, rimou Zinho.

O território percorrido é a cultura e o litoral norte de São Paulo. É alta temporada e o turismo não dá sossego. Do coração da metrópole, as veias asfaltadas espalham a degradação de um sistema – mesmo no seu período de descanso, os turistas carregam consigo seus hábitos e uma ânsia de extravasar toda a repressão de um ano inteiro. Na virada do ano, em Bertioga, o clima era tenso, mesmo em plena festa. Alegria violenta e artificial. Vida violenta e artificial. Os fogos e os sonhos são de artifício – um pequeno encanto fugaz.

Vamos caminhando debaixo do sol de escaldar do nosso Brasil, molhando o pé nesse marzão de deus, bebendo das fontes exuberantes, pisando, rimando e mirando. Os mosquitos não perdoam nossas peles macias. O verde abraça a beira das estradas, e os carros se movem, dirigindo-se aos residenciais de luxo do litoral norte paulista. Ilhas de conforto forjadas para simular um mundo que não existe, construído sobre a miséria das vilas e favelas. Na verdade, não existem dois mundos. São extremos de uma mesma realidade desigual.

Este solo é rico – boa parte do pouco que sobrou da Mata Atlântica brasileira encontra-se nesse trecho. Contudo, há outras riquezas em cheque. Essa é a região do Pré-Sal. Em São Sebastião, onde estamos agora, a Petrobrás impera. Em todos os lados há reservatórios de petróleo, centrais e cartazes publicitários da empresa. Grande parte da população depende diretamente dela. A pretensão é ampliar o porto da cidade – mais pessoas virão para trabalhar nessa obra. E a estrutura da cidade, irá acompanhar o crescimento? Haverá moradia, educação, sistema de saúde, cultura e alimentação para todos? E o ambiente, esse resquício de Mata Atlântica que ainda não destruímos? Iremos passar por cima dele com nossos rolos de concreto também?

Tivemos esse debate ontem, quando Soraia, amiga do Binho que trabalha com Biodança, veio fazer uma vivência conosco. Sua amiga Malu a acompanhou. Ela mora na região há sete anos e nos contou um pouco da conjuntura local. Esse debate, assim como aquele que tivemos sobre o Pré-Sal em Santos, nos leva a pensar que há muito o que mudar. Nossos hábitos estão distorcidos, nossas relações muitas vezes se dão de maneira equivocada. Enquanto o objetivo de nossa sociedade for individual e monetário, de pouco servirão mudanças. Por isso nossa caminhada procura desenvolver novos olhares. Afinal o que queremos? Onde almejamos chegar? Preparemos nossas setas, mas antes definemos o alvo.

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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Donde Miras – Mamãe Oxúm

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Cachoeiras do litoral paulista. As duas primeiras imagens são de Maresias. As restantes são da aldeia guarani pela qual passamos.

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