Há uma serpente que rasteja
dentro de mim
a qual renego e acaricio
alternando culpa e orgulho
pureza e escárnio.
Meiga má menina mulher
velha ranzinza suas manias e suas pragas
— sou todas e sou nenhuma.
Sou negra cafusa índia
branquela azeda.
Meu sangue azul vermelho
sangue nenhum
minhas veias estão vazias
esvaíram-se em versos.
Sai poesia, sai a passear
leva contigo minhas tristezas
que já não as quero mais.
Leva contigo minhas maldades
minhas mesquinhas perversidades
carrega meu ego insaciável
e dai-lhe de beber.
E me deixe aqui sozinha
sem mim
porque longe de mim
eu posso criar asas
ser serpente emplumada
ser da terra que tudo vê.