Archive for the ‘Sem categoria’ Category

Estratégias para Produção Simbólica e Diversidade Cultural

segunda-feira, setembro 21st, 2009

Deliberações do Grupo de Discussão do Eixo I – Produção Simbólica e Diversidade Cultural da II Conferência Municipal de Cultura de Curitiba.

ESTRATÉGIAS DE ÂMBITO NACIONAL

1 – Estabelecer políticas federais de cultura que criem ferramentas para a participação da sociedade por meio de conferências realizadas com as comunidades, nas quais serão eleitos os conselhos específicos formados por representantes das diversas áreas culturais, para garantir espaço para as especificidades artísticas e regionais nas etapas de concepção, desenvolvimento e aplicação de políticas de cultura, para que a diversidade de linguagens artísticas e atividades culturais sejam fomentadas e contempladas com editais públicos e destinação de dotação orçamentária.

2 – Estabelecer políticas federais de cultura que desenvolvam programas de formação para comunicação, permitindo que todo cidadão se aproprie de sua condição de agente político e cultural, tendo em vista que é através dos meios de comunicação que se difundem as concepções e manifestações culturais, viabilizando a capacitação da população para atuação em rádios e TVs públicas e comunitárias e demais meios, contribuindo para a democratização dos meios de comunicação por meio da livre expressão da diversidade cultural.

ESTRATÉGIAS DE ÂMBITO ESTADUAL

1 – Que as políticas estaduais de cultura criem ferramentas para a participação da sociedade por meio de conferências comunitárias nas quais serão eleitos os conselhos específicos formados por representantes das diversas áreas culturais para garantir as especificidades artísticas, regionais e geográficas nas etapas de concepção, desenvolvimento e aplicação de políticas de cultura, para que a diversidade de linguagens artísticas e atividades culturais sejam fomentadas e contempladas com editais públicos e destinação de dotação orçamentária.

2 – Estabelecer políticas estaduais de cultura que ampliem a articulação com as políticas estaduais de educação, oferecendo editais integrados para entidades culturais que trabalhem com a temática da arte e educação e/ou desenvolvam programas de formação para comunicação, permitindo que todo cidadão se aproprie de sua condição de agente político e cultural, garantindo a afirmação e divulgação da diversidade cultural da comunidade.

ESTRATÉGIAS DE ÂMBITO MUNICIPAL A SEREM ENCAMINHADAS AO MINISTÉRIO DA CULTURA

1 – Que haja ampliação das políticas públicas municipais através da descentralização da cultura do eixo central, geográfico e financeiro da cidade por meio de ações permanentes, criando centros de cultura nos bairros, abertos à comunidade, que tenham a função de identificar, mapear, pesquisar e incentivar a formação político-cultural dos cidadãos, assim como a capacitação para elaboração de projetos subsidiados pelas Leis de Incentivo à cultura, ampliando as ações de afirmação voltadas à diversidade cultural e valorizando a cultura popular e os setores periféricos historicamente excluídos.

2 – Que as políticas municipais de cultura reconheçam a comunicação como essencial para a difusão da produção simbólica e reconhecimento da diversidade cultural, expandindo seus veículos de comunicação (a exemplo de seu guia cultural, site na internet, murais nos mobiliários urbanos, como também futuros veículos que possam vir a ser criados), utilizando os princípios do softwares livres, Creative Commons e copyleft, garantindo a divulgação da produção cultural da comunidade.

ESTRATÉGIAS DE ÂMBITO MUNICIPAL A SEREM ENCAMINHADAS À FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA

1 – Estabelecer políticas federais de cultura que criem ferramentas para a participação da sociedade por meio de conferências realizadas com as comunidades, nas quais serão eleitos os conselhos específicos formados por representantes das diversas áreas culturais, para garantir espaço para as especificidades artísticas e regionais nas etapas de concepção, desenvolvimento e aplicação de políticas de cultura, para que a diversidade de linguagens artísticas e atividades culturais sejam fomentadas e contempladas com editais públicos e destinação de dotação orçamentária.

2 – Estabelecer políticas municipais de cultura que ampliem a articulação com as políticas estaduais de educação, oferecendo editais integrados para entidades culturais que trabalhem com a temática da arte e educação e/ou desenvolvam programas de formação para comunicação, permitindo que todo cidadão se aproprie de sua condição de agente político e cultural, garantindo a afirmação e divulgação da diversidade cultural da comunidade.

3 – Estabelecer políticas municipais de cultura que desenvolvam programas de formação para comunicação, permitindo que todo cidadão se aproprie de sua condição de agente político e cultural, tendo em vista que é através dos meios de comunicação que se difundem as concepções e manifestações culturais, viabilizando a capacitação da população para atuação em rádios e TVs públicas e comunitárias e demais meios, contribuindo para a democratização dos meios de comunicação por meio da livre expressão da diversidade cultural.

Saiba mais sobre a II Conferência Municipal de Cultura aqui.

Share

Tiradentes, de Machado de Assis

domingo, setembro 13th, 2009

Crônica desse gênio publicada em 24 de abril de 1892 na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro.

Na segunda-feira da semana que findou, acordei cedo, pouco depois das galinhas, e dei-me ao gosto de propor a mim mesmo um problema. Verdadeiramente era uma charada; mas o nome de problema dá dignidade, e excita para logo a atenção dos leitores austeros. Sou como as atrizes, que já não fazem benefício, mas festa artística. A cousa é a mesma, os bilhetes crescem de igual modo, seja em número, seja em preço; o resto, comédia, drama, opereta, uma polca entre dous atos, uma poesia, várias ramalhetes, lampiões fora, e os colegas em grande gala, oferecendo em cena o retrato à beneficiada.

Tudo pede certa elevação. Conheci dous velhos estimáveis, vizinhos, que esses tinham todos os dias a sua festa artística. Um era Cavaleiro da Ordem da Rosa, por serviços em relação à guerra do Paraguai; o outro tinha posto de tenente da guarda nacional da reserva, a que prestava bons serviços. Jogavam xadrez, e dormiam no intervalo das jogadas. Despertavam-se um ao outro desta maneira: “Caro major!” — “Pronto, comendador!” — Variavam às vezes: — “Caro comendador!” — “Aí vou, major!”. Tudo pede certa elevação.

Para não ir mais longe. Tiradentes. Aqui está um exemplo. Tivemos esta semana o centenário do grande mártir. A prisão do heróico alferes é das que devem ser comemoradas por todos os filhos deste país, se há neles patriotismo é outra cousa mais que um simples motivo de palavras grossas e rotundas. A capital portou-se bem. Dos Estados estão vindo boas notícias. O instinto popular, de acordo com o exame da razão, fez da figura do alferes Xavier o principal dos inconfidentes, e colocou os seus parceiros a meia ração da glória. Merecem, de certo, a nossa estimação aqueles outros; eram patriotas. Mas o que se ofereceu a carregar com os pecados de Israel, o que chorou de alegria quando viu comutada a pena de morte dos seus companheiros, pena que só ia ser executada nele; o enforcado, o esquartejado, o decapitado, esse tem de receber o prêmio na proporção do martírio, e ganhar por todos, visto que pagou por todos.

Um dos oradores do dia 21 observou que, se a Inconfidência tem vencido, os cargos iam para os outros conjurados, não para o alferes. Pois não é muito que, não tendo vencido, a história lhe dê a principal cadeira. A distribuição é justa. Os outros têm ainda um belo papel; formam, em torno de Tiradentes, um coro igual ao das Oceânides diante de Prometeu encadeado. Relede Ésquilo, amigo leitor. Escutai a linguagem compassiva das ninfas, escutai os gritos terríveis, quando o grande titão é envolvido na conflagração geral das cousas. Mas principalmente, ouvi as palavras de Prometeu narrando os seus crimes às ninfas amadas: “Dei o fogo aos homens; esse mestre lhes ensinará todas as artes”. Foi o que nos fez Tiradentes.

Entretanto, o alferes Joaquim José tem ainda contra si uma coisa, a alcunha. Há pessoas que o amam, que o admiram, patrióticas e humanas, mas que não podem tolerar esse nome de Tiradentes. Certamente que o tempo trará a familiaridade no nome e a harmonia das sílabas; imaginemos, porém, que o alferes tem podido galgar pela imaginação um século e despachar-se cirurgião-dentista. Era o mesmo herói, e o ofício era o mesmo; mas traria outra dignidade. Pode ser até que, com o tempo, viesse a perder a segunda parte, dentista, e quedar-se apenas cirurgião.

Há muitos anos, um rapaz — por sinal que bonito — estava para casar com uma linda moça —, a aprazimento de todos, pais e mães, irmãos, tios e primos. Mas o noivo demorava o consórcio; adiava de um sábado para outro, depois quinta-feira, logo terça, mais tarde sábado; — dois meses de espera. Ao fim desse tempo, o futuro sogro comunicou à mulher os seus receios. Talvez o rapaz não quisesse casar. A sogra, que antes de o ser já era, pegou do pau moral, e foi ter com o esquivo genro. Que histórias eram aquelas de adiamentos?

— Perdão, senhora, é uma nobre e alta razão; espero apenas…

— Apenas…?

— Apenas o meu título de agrimensor.

— De agrimensor? Mas quem lhe diz que minha filha precisa do seu ofício para comer? Case, que não morrerá de fome; o título virá depois.

— Perdão; mas não é pelo título de agrimensor, propriamente dito, que estou demorando o casamento. Lá na roça dá-se ao agrimensor, por cortesia, o título de doutor, e eu quisera casar já doutor…

Sogra, sogro, noiva, parentes, todos entenderam esta sutileza, e aprovaram o moço. Em boa hora o fizeram. Dali a três meses recebia o noivo os títulos de agrimensor, de doutor, e de marido.

Daqui ao caso eleitoral é menos que um passo; mas, não entendendo eu de política, ignoro se a ausência de tão grande parte do eleitorado do dia 20 quer dizer descrença, como afirmam uns, ou abstenção como outros juram. A descrença é fenômeno alheio à vontade do eleitor; a abstenção é propósito. Há quem não veja em tudo isto mais que a ignorância do poder daquele fogo que Tiradentes legou aos seus patrícios. O que sei, é que fui à minha seção para votar, mas achei a porta fechada e a urna na rua, com os livros e ofícios. Outra casa os acolheu compassiva; mas os mesários não tinham sido avisados e os eleitores eram cinco. Discutimos a questão de saber o que é que nasceu primeiro, se a galinha, se o ovo. Era o problema, a charada, a adivinhação de segunda-feira. Dividiram-se as opiniões; uns foram pelo ovo, outros pela galinha; o próprio galo teve um voto. Os candidatos é que não tiveram nem um, porque os mesários não vieram e bateram dez horas. Podia acabar em prosa, mas prefiro o verso:

Sara, belle d’indolence,

Se balance

Dans un hamac… *

* Sara, bela na sua indolência,

Se balança

Numa rede…

Share

Jornalismo: entre egos e notícias

quinta-feira, julho 16th, 2009

Editorial da quarta edição do Jornal Caranguejo, oficina do 19º Festival de Inverno, publicado no dia 15 de julho.

Assim como a arte, o jornalismo nunca agrada a todos. Discutir a realidade em suas diversas facetas da maneira mais direta possível é dever daqueles que trabalham na área. Porém, como o ofício envolve seres humanos e interfere em suas relações, a responsabilidade é grande. A ética está atrelada ao tempo nessa profissão – o respeito é indispensável e o prazo é inflexível.

Os jornalistas tornam os fatos públicos, problematizando-os. Devem satisfação ao interesse coletivo, muitas vezes indo contra os particulares. A mídia lida diariamente com egos, ambições, injustiças – e no meio deste visado campo, profissionais batalham pela notícia segura, equilibrando-se numa corda bamba de possibilidades.

A existência humana, apesar do desenvolvimento da ciência e seus desdobramentos tecnológicos, continua sendo um mistério – portanto, aberta a diferentes interpretações. A face tangível de objetos e situações sempre encontra-se misturada à sua carga subjetiva. Por isso, a apuração dos fatos envolve fatores que não podem ser medidos e catalogados.

Criou-se o mito da imparcialidade, elemento indispensável do slogan dos jornais diários. Mas como interpretar fatos, contar histórias, ignorando a mente e o punho que a escrevem? Na oficina do Jornal Caranguejo, os alunos se surpreendem com a dificuldade de produzir matérias, essa instigante arte de esquematizar ideias. Cada um tem uma forma diferente de narrativa, conhecimento acerca de distintos temas, experiências pessoais diversas.

O respeito às diferentes opiniões e a consciência da função social da profissão devem guiar os jornalistas para longe do individualismo. Contudo, o texto sempre carrega a marca de seu autor. É esse elemento que aproxima o jornalismo da arte da escrita, aumentando o fascínio daqueles que se envolvem com a sua produção.

Share

Inverno precoce

quarta-feira, junho 17th, 2009

Chove em Curitiba. Após uma madrugada reescrevendo histórias bolivianas e passeando pela Bahia da década de 30 de mãos dadas com Jorge Amado e rodeada por garotos de rua impressionantes e comoventes, dormi sem tomar banho. As poucas gotas ralas de água me desencorajaram de meus hábitos higiênicos. Se ao menos o chuveiro esquentasse, se ao menos os meus calçados não estivessem todos furados (sou uma destruidora de sapatos – eles não resistem um mês às minhas pisadas tortas)… se ao menos não me sentisse tão só nessas noites frias… por que não me basto?

Acordei ao meio dia. Nestas minhas férias forçadas pela falta de pagamento por parte da excelentíssima Secretaria Estadual de Ciência Tecnologia e Ensino Superior (se o Estado não respeita meus direitos, quem respeitará?), brinco com meus horários. Minha mania vampiresca, minha ânsia por leitura e silêncio, meu deleite em ouvir belezas e cantar sozinha em meu quarto sempre me rolaram ladeira abaixo nessa tendência de trocar o sol suave da manhã pela quietude da madrugada. Tenho livros para ler, resenhas a fazer, fotos e vídeos para editar – felizmente minha produtividade não está comprometida pela falta de horário fixo e carteira assinada. Os únicos percalços são meus bolsos vazios, minha conta no negativo, minhas dívidas (até agora, poucas, mas amanhã, sabe-se lá).

Democratização da comunicação, políticas culturais, autodeterminação, latinidade – soy loco por ti América, soy loco por ti de amores. Há muito o que fazer, muito o que crescer, muito o que descobrir, muito pelo que lutar (muito o que aprender para saber pelo quê lutar). A vida é uma encruzilhada de três vias: espiritual – o Deus em tudo e em cada um de nós, as individualidades divinas; astral – a energia vital, mais sutil que a matéria e mais tátil que o espírito; e material – o que vemos claramente, o que tocamos, o que insistimos em assumir como a totalidade do universo, enquanto é tão óbvio que a vida vai muito mais além… E eu aqui, no meio de tudo isso, de sirenes de ambulâncias, o cara louco de cola na esquina dando socos no ar, o vizinho mala, carros, carros e carros – a materialidade asfixiante. O encanto da matéria… a vida também é isso, mas será só? Esquecemos de onde viemos, para onde vamos, afinal, por favor, nos perguntemos, qual o sentido de nossas vidas?

Café e cigarros. Matéria. Chuva e frio. Matéria. Filmes argentinos na cinemateca, mas não ouso sair de casa – já basta ter passado o dia de ontem com os pés encharcados. Matéria. E aqui estou eu, precisando de palavras e teclas para expressar minha subjetividade e reclamar da matéria.

Share

Fascismo na USP

domingo, junho 14th, 2009

Segue abaixo relato de Pablo Ortellado, professor da USP, que presenciou os atos de violência cometidos em 09/06 na instituição.

Hoje, as associações de funcionários, estudantes e professores haviam deliberado por uma manifestação em frente à reitoria. A manifestação, que eu presenciei, foi completamente pacífica. Depois, as organizações de funcionários e estudantes saíram em passeata para o portão 1 para repudiar a presença da polícia do campus. Embora a Adusp não tivesse aderido a essa manifestação, eu, individualmente, a acompanhei para presenciar os fatos que, a essa altura, já se anunciavam. Os estudantes e funcionários chegaram ao portão 1 e ficaram cara a cara com os policiais militares, na altura da avenida Alvarenga. Houve as palavras de ordem usuais dos sindicatos contra a presença da polícia e xingamentos mais ou menos espontâneos por parte dos manifestantes. Estimo cerca de 1200 pessoas nesta manifestação.

Nesta altura, saí da manifestação, porque se iniciava assembléia dos docentes da USP que seria realizada no prédio da História/ Geografia. No decorrer da assembléia, chegaram relatos que a tropa de choque havia agredido os estudantes e funcionários e que se iniciava um tumulto de grandes proporções. A assembléia foi suspensa e saímos para o estacionamento e descemos as escadas que dão para a avenida Luciano Gualberto para ver o que estava acontecendo. Quando chegamos na altura do gramado, havia uma multidão de centenas de pessoas, a maioria estudantes correndo e a tropa de choque avançando e lançando bombas de concusão (falsamente chamadas de “efeito moral” porque soltam estilhaços e machucam bastante) e de gás lacrimogêneo. A multidão subiu correndo até o prédio da História/ Geografia, onde a assembléia havia sido interrompida e começou a chover bombas no estacionamento e entrada do prédio (mais ou menos em frente à lanchonete e entrada das rampas). Sentimos um cheiro forte de gás lacrimogêneo e dezenas de nossos colegas começaram a passar mal devido aos efeitos do gás – lembro da professora Graziela, do professor Thomás, do professor Alessandro Soares, do professor Cogiolla, do professor Jorge Machado e da professora Lizete todos com os olhos inchados e vermelhos e tontos pelo efeito do gás. A multidão de cerca de 400 ou 500 pessoas ficou acuada neste edifício cercada pela polícia e 4 helicópteros.

O clima era de pânico. Durante cerca de uma hora, pelo menos, se ouviu a explosão de bombas e o cheiro de gás invadia o prédio. Depois de uma tensão que parecia infinita, recebemos notícia que um pequeno grupo havia conseguido conversar com o chefe da tropa e persuadido de recuar. Neste momento, também, os estudantes no meio de um grande tumulto haviam conseguido fazer uma pequena assembléia de umas 200 pessoas (todas as outras dispersas e em pânico) e deliberado descer até o gramado (para fazer uma assembléia mais organizada). Neste momento, recebi notícia que meu colega Thomás Haddad havia descido até a reitoria para pedir bom senso ao chefe da tropa e foi recebido com gás de pimenta e passava muito mal. Ele estava na sede da Adusp se recuperando.

Durante a espera infinita no pátio da História, os relatos de agressões se multiplicavam. Escutei que a diretoria do Sintusp foi presa de maneira completamente arbitrária e vi vários estudantes que haviam sido espancados ou se machucado com as bombas de concusão (inclusive meu colega, professor Jorge Machado). Escutei relato de pelo menos três professores que tentaram mediar o conflito e foram agredidos. Na sede da Adusp, soube, por meio do relato de uma professora da TO que chegou cedo ao hospital que pelo menos dois estudantes e um funcionário haviam sido feridos. Dois colegas subiram lá agora há pouco (por volta das 7 e meia) e tiveram a entrada barrada – os seguranças não deixavam ninguém entrar e nenhum funcionário podia dar qualquer informação. Uma outra delegação de professores foi ao 93o DP para ver quantas pessoas haviam sido presas. A informação incompleta que recebo até agora é que dois funcionários do Sintusp foram presos – mas escutei relatos de primeira pessoa de que haveria mais presos.

A situação, agora, é de aparente tranquilidade. Há uma assembléia de professores que se reuniu novamente na História e estou indo para lá. A situação é gravíssima. Hoje me envergonho da nossa universidade ser dirigida por uma reitora que, alertada dos riscos (eu mesmo a alertei em reunião na última sexta-feira) , autorizou que essa barbárie acontecesse num campus universitário. Estou cercado de colegas que estão chocados com a omissão da reitora. Na minha opinião, se a comunidade acadêmica não se mobilizar diante desses fatos gravíssimos, que atentam contra o diálogo, o bom senso e a liberdade de pensamento e ação, não sei mais.

Por favor, se acharem necessário, reenviem esse relato a quem julgarem que é conveniente.

Cordialmente,

Prof. Dr. Pablo Ortellado

Escola de Artes, Ciências e Humanidades

Universidade de São Paulo

Share

Nova ocupação rururbana de BH pede ajuda

quarta-feira, abril 15th, 2009

Recebi este email de um companheiro do MST de Minas Gerais, onde fiz o Estágio Interdisciplinar de Vivência em Áreas de Reforma Agrária em 2006, o qual me fez conhecer a luta autêntica do ser humano no seu direito primordial: a terra, que é nossa mãe, nossa base, nosso habitat natural. Direito esse, que injustamente, hoje está abaixo dos interesses privados. Há gente tentando mudar isso e que precisa de ajuda.

Um mar de barracos de lona

O que começou com cerca de 150 famílias, na madrugada do dia 09/04, já alcança hoje, na tarde do dia 11 a marca de 550 barracos cadastrados e numerados. Em alguns é possível encontrar famílias com dez ou quinze pessoas, dentre adultos, jovens e crianças. Ou seja, estima-se a presença de mais de duas mil pessoas na mais nova ocupação rururbana de Belo Horizonte.

Batizada de Dandara, em homenagem à companheira de Zumbi dos Palmares, a ação foi realizada conjuntamente pelo Fórum de Moradia do Barreiro, as Brigadas Populares e o MST. A ação faz parte do Abril Vermelho, em que se reforçam as lutas sociais pela função social da propriedade (previsto no inciso 23 do artigo 5º da Constituição Brasileira) e inaugura em Minas Gerais a aliança entre os atores da Reforma Agrária e da Reforma Urbana.

Neste sentido, a Dandara traz dois diferenciais. O primeiro é o perfil rururbano da ação, reivindicando um terreno de 40 mil metros quadrados no bairro Céu Azul, na periferia de Belo Horizonte. A idéia é pedir a divisão em lotes que ajudem a solucionar o passivo de moradia de Belo Horizonte, hoje avaliado em 100 mil unidades, das quais 80% são de famílias com ganhos abaixo de três salários mínimos. E também contribuir na geração de renda e na segurança alimentar, ao adotar-se um sistema de agricultura periurbana, em que cada lote destine uma área de terra possível de se tirar subsistência ou complemento de renda e alimentação saudável.

A enorme massificação da área pelas famílias da região foi surpresa para todos os militantes presentes, e ainda segue chegando gente, na luta de sair de áreas de risco ou de fugindo do aluguel impagável.

Histórico e Situação Atual

– A ocupação foi realizada na madrugada de 09/04/09 com 150 famílias, pelo Fórum de Moradia do Barreiro, Brigadas Populares e MST. O terreno tem 40 hectares e está abandonado desde a década de 70, além de acumular dívidas de impostos na casa de 18 milhões de reais. Veja link 2, 3 e 5 (no final da nota).

– Toda a imprensa cobriu o caso e está havendo grande repercussão pública em Belo Horizonte. As matérias de modo geral (exceto Globo) têm tratado com relativa isenção, e o Estado de Minas resolveu silenciar. A Record tem feito plantões permanentes atualizando os fatos e dado a melhor cobertura.

– Ao final do dia a polícia tentou despejar sem liminar de reintegração de posse, a mando da construtora que alega ser proprietária do terreno. Foram três horas de terror, com a investida de mais de 150 homens do batalhão de choque, que explodiram bombas, lançaram gás pimenta e destruíram dezenas de barracos com vôos rasantes de helicóptero.

– A comunidade, em apoio aos manifestantes, resolveu intervir, atirando pedras e enfrentando fisicamente a polícia, o que resultou em vários feridos e três presos.

– A polícia tem aproveitado o enorme efetivo deslocado para o local para enfrentar o tráfico de drogas da região, unificando o tratamento dado aos bandidos aos lutadores do povo que reivindicam moradia. Também tem atuado de forma arbitrária ao confinar os barracos em uma área restrita dentro do terreno, onde já não cabem mais pessoas, e proibindo a instalação de tendas de reuniões, banheiros e acesso à água e energia.

– Não param de chegar famílias para acampar. A última contagem numerou mais de 550 barracos e estima-se que isto corresponda a cerca de duas mil a cinco mil pessoas (entre adultos, jovens e crianças).

– Há intimidações da Construtora Modelo que se alega proprietária, que através de sua advogada pressionou a retirada das famílias ameaçando do uso de seu poder econômico e de relações escusas com o judiciário. Segundo a advogada, seu marido seria desembargador do TJMG. Mesmo assim o pedido de liminar foi negado pelo plantão do tribunal, o que demonstra a inconsistência dos argumentos da construtora.

– À medida em que se aglomeram mais pessoas aumentam os problemas de higiene e saúde, já que não há saneamento, nem acesso à água e energia. A noite todos ficam no escuro, ou à luz de velas e lamparinas, o que é um risco à segurança pela possibilidade de incêndio.

– A comunidade local segue apoiando, (veja link 4) e muitos moradores tem ajudado com comida, água, materiais de construção usados e outras coisas.

– Existe possibilidade iminente de sair um despejo no pleno do tribunal, a partir de segunda-feira, o que reforça a necessidade de ajuda à esta situação.

O QUE VOCÊ PODE FAZER?

Precisamos apoio:

Político: até agora somente um deputado esteve no local, e o poder público de modo geral tem se omitido, restando como interlocuor do Estado somente a Polícia Militar. Perguntamos se a mentalidade do Governo Aécio e do Prefeito Márcio Lacerda é de tratar os resultados da Crise Mundial, quando chegam aqui através do desemprego e da falta de moradia como caso de polícia. Pedimos a todos que enviem este correio e busquem em suas articulações o apoio necessário para assegurar a vitória desta luta justa.

Financeiro: a situação é muito precária!!! Falta água potável e alimentos, principalmente para as crianças, lona para as barracas, materiais diversos, pilhas e lanternas, velas, cobertores, colchões, etc.
Estamos coletando as contribuições no próprio local, na secretaria da Ocupação Dandara, perto da portaria, ou em dinheiro, por meio da conta poupança da CEF nº 204470-4 da agência 2333, op 013.

Militante: Precisamos de apoio dos militantes de Belo Horizonte, que estejam dispostos a ajudar a coordenar a ocupação, contribuindo nos corres externos e internos. A luta deve se intensificar nas semanas que vem, e a massificação também tem multiplicado as tarefas e demandas da luta. Precisamos apoio técnico nas áreas jurídica e de comunicação. Ainda não conseguimos uma aparelhagem ou carro de som para as Assembléias, que a medida que tem mais gente ficam difíceis de se fazer sem este recurso.

Maiores informações nos telefones 31 8815-4120/ 31 8531-3551.

LINKS IMPORTANTES:

LINK 2 – Vídeo produzido pela Caracol sobre a ocupação.

REPORTAGENS SOBRE A OCUPAÇÃO DANDARA:

LINK 3

LINK 4 (muito boa esta com depoimento de apoio dos vizinhos)

LINK 5

Visite o blog da ocupação Dandara.

Share

Anatel destrói 8 toneladas de equipamentos provenientes de rádios comunitárias

segunda-feira, abril 13th, 2009

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) destruiu oito toneladas de equipamentos de rádios comunitárias de São Paulo, na última quarta-feira (8), alegando estar coibindo “atividades ilegais”.

O ato da Anatel foi repudiado e condenado com veemência pelos coordenadores-executivos do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), para quem a Agência age “na contramão da democratização” no momento em que o Governo Federal está prestes a convocar a 1ª. Conferência Nacional de Comunicação, atendendo os clamores dos movimentos sociais.

Assistida pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), a destruição foi feita com máquinas cedidas pela prefeitura e ocorreu no aeroporto de Congonhas. A escolha do local foi premeditada, tendo a Anatel evocado o já comprovadamente insustentável argumento de que o sinal emitido pelas rádios comunitárias interfere no tráfego aéreo e o coloca em risco.

Entre os equipamentos apreendidos durante operações de fiscalização do Escritório Regional de São Paulo, nos últimos sete anos, estavam antenas, transmissores, receptores e mídias. A destruição foi registrada e divulgada pela própria Anatel, que alegou também motivos econômicos: seria imperioso desocupar o depósito onde estavam os equipamentos, alugado ao custo anual de R$ 50 mil.

Para José Sóter, Coordenador-executivo da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço) e membro da Coordenação-executiva do FNDC, o ato foi uma reação também dos empresários de comunicação, que são contrários à realização da Conferência e começam a promover ações midiáticas. “É um atentado protagonizado pela Anatel, principalmente porque utilizaram o cenário para passar a idéia de que aqueles equipamentos estariam interferindo nos sistemas de comunicação dos aeroportos”, observa.

Contudo, como destaca Sóter, a interferência provém das emissoras de grande potência. “Nós temos um relatório do CINDACTA [Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Trafego Aéreo], onde consta que a interferência detectada foi de emissoras, inclusive veiculadas ao Sistema Globo de Comunicação. Está comprovado que se trata de uma informação enganosa, com a Anatel a as empresas tentando jogar a comunidade contra as rádios comunitárias, tentando justificar essa ação completamente descabida”, afirma.

Sóter destaca que grande parte dos equipamentos destruídos estão vinculados a processos de regularização das emissoras ainda em tramitação, aguardando o parecer das autoridades responsáveis.

Construindo a imagem da comunidade “bandida”

Para Edson Amaral, dirigente da Federação Interestadual de Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão (Fitert) e integrante da Executiva do FNDC, os equipamentos oriundos de emissoras comprovadamente não comunitárias poderiam, por exemplo, serem destinados para montar rádios educativas, ou rádios dentro das faculdades. “Mas eles agem como se todo mundo fosse bandido. É engraçado que essas coisas aconteçam em um governo popular como do Lula. Ao invés de ir atrás de drogas, contrabando de remédios, eles atuam para prender e marginalizar aquele que quer trabalhar com comunicação e prestar um serviço para comunidade”, opina.

Ataque a práticas legítimas de comunicação

“O que existe, principalmente, são rádios que aguardam a legalização por conta da inoperância do Estado. Se existem rádios realmente piratas, essas atuam como se comerciais fossem, e elas têm que ter o nome apontado. Essas é que tem que ser fechadas”, afirma a cineasta Berenice Mendes, representante da Associação Nacional das Entidades de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões (Aneate) na Coordenação Executiva do FNDC.

Para a cineasta, a Anatel deveria fiscalizar de fato as rádios comerciais, muitas das quais estão operando com uma potência muito maior do que a autorizada, essas sim interferindo no tráfego aéreo.

Confira a matéria na íntegra na página do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.

Share

Tiros contra MTST no interior de São Paulo

sexta-feira, fevereiro 20th, 2009

Soube dessa notícia por amigos de São Paulo que estão com companheiros de luta presos e feridos. A matéria foi tirada do site do movimentohttp://www.mtst.info/.

Nesse dia 19 de Fevereiro mais de 200 famílias sem-teto organizadas pelo MTST – Movimento dos Trabalhadores sem Teto –  saíram a luta para não serem despejadas pela Prefeitura de Mauá. São moradores do bairro Paranavaí que desde a ocupação de um terreno público que não cumpria sua função social, que não possui nenhum projeto governamental, e só era utilizado para ações criminosas como estupro, desova de cadáveres e tudo aquilo que uma comunidade não quer, foram em busca de um direito constitucional, o da moradia digna.

 

A coordenação do MTST, na ocupação realizada em setembro do ano, procurou desde o início dialogar com as autoridades locais, procurando a Prefeitura que mantinha um canal aberto com o movimento, chegando até a discutir o abastecimento de água para a ocupação.

Surpreendentemente, com a mudança de gestão na Prefeitura para o governo de Oswaldo Dias esse canal foi fechado. Na única reunião que houve com a Prefeitura dia 26 de Janeiro, já havia uma liminar de reintegração de posse, concedida pelo judiciário local desde o dia 15 do mesmo mês, e a Prefeitura nada informou as representantes do movimento, revelando uma postura autoritária e negligente com a iniciativa de diálogo tranqüilo proposta pelo movimento.

Não restando alternativas às famílias, fomos para a luta reivindicar nosso direito e abrir os canais de negociações com o município. Ocupamos o saguão da Prefeitura pacificamente e esperávamos uma negociação para nos retirarmos da mesma forma. Entretanto, numa ação desproporcional e truculenta a Guarda Civil Metropolitana a mando de representantes da Prefeitura, agrediu as famílias com cassetetes e tiros de revolver. Mais de 19 pessoas ficaram feridas, uma gravemente com ferimentos na cabeça e um de nossos companheiros foi baleado. A Polícia Militar deteve 79 companheiros que estão sendo liberados.

A atitude da Prefeitura em acionar a Guarda sem procurar qualquer diálogo, é inconseqüente, truculenta e autoritária. Já é sabido de todos o despreparo da Guarda Municipal para esse tipo de ação, e acionaremos todos os meios legais para afastar os responsáveis. Se alguém acreditou que haveria maior facilidade de diálogo com o Prefeito Oswaldo Dias, a máscara democrática e popular do governo caiu.

Essa atitude desumana e brutal da Prefeitura e da Guarda Civil de Mauá não nos fará parar: exigimos a suspensão do despejo para os moradores da ocupação no Paranavaí. A luta pelos nossos direitos é uma luta justa, e estaremos dispostos a fazê-la até que se cumpra.

Share

Paraisópolis – Arruaça é a puta que o pariu

quarta-feira, fevereiro 4th, 2009

Para enteder um pouco do que não se entende.

http://ferrez.blogspot.com/

O jornalismo canalha não pára.
Expõe protesto como arruaça, como bagunça, e em nenhum canal, em nenhum jornal explicaram que tudo começou por um atropelamento.
Paraisópolis não pode se manifestar, manifesto é ter trailer lotado de gente fantasiada na Paulista.
Paraisópolis não pode achar ruim de ter mais um menino morto por causa de uma simples lombada ou um sinal, tá faltando farol em São Paulo? acho que não, vai pro Jardins, vai pro alto de Pinheiros e você vai ver onde eles se concentram, para evitar que o boy com a cara cheia de álcool, coca, maconha volte da balada e corra algum risco.
aqui! pancada, rojão, pneu queimado, tudo isso pra mostrar pro estado porco que agente dá valor pra uma vida.
fotos fortes, notícia quente, e nenhum morador falando, só as cenas de confronto, quando os robocops chegaram, com medo…medo sim, de que os favelados fossem para o vizinho, famoso “Morumby”.
Num esquenta “ortoridade” que ninguém ainda se tocou que devia querer mais, dessa vez passa batido, só querem um farol.

abaixo carta da União de Moradores de Paraisópolis.

Os moradores da comunidade de Paraisópolis enfrentaram nesta segunda-feira, 2 de fevereiro, um dia marcado pela irracionalidade.
Carros queimados, bombas e tiros trocados impediram que trabalhadores saissem de suas casas e crianças voltassem de suas escolas.
Milhares de vidas foram colocadas sob um imenso risco.
A União dos Moradores lutará com todas as suas forças para que essas cenas nunca mais voltem a se repetir em frente as nossas casas e ao lado de nossos filhos! Gilson RodriguesPresidente da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis

PS: vamos usar os nossos canais de informação para isso, para mostrar o outro lado dos acontecimentos, essa é a grande vantagem dos blogs.

Share

Palavras, de José Saramago

quarta-feira, fevereiro 4th, 2009

Saramago escreve um pequeno texto interpretativo e genial todos os dias em http://caderno.josesaramago.org. Eu recomendo. Muito. Aí vai uma palhinha. (Adoro quando alguém consegue dizer exatamente aquilo que eu sempre quis mas nunca consegui – esse é o caso.)

Não pode haver conferência de imprensa sem palavras, em geral muitas, algumas vezes demasiadas. Pilar insiste em recomendar-me que dê respostas breves, fórmulas sintéticas capazes de concentrar longos discursos que ali estariam fora de lugar. Tem razão, mas a minha natureza é outra. Penso que cada palavra necessita sempre pelo menos outra que a ajude a explicar-se. A coisa chegou a um ponto tal que, de há tempos a esta parte, passei a antecipar-me às perguntas que supostamente me farão, procedimento facilitado pelo conhecimento prévio que venho acumulando sobre o tipo de assuntos que aos jornalistas mais costumam interessar. O divertido do caso está na liberdade que assumo ao iniciar uma exposição dessas. Sem ter de preocupar-me com os enquadramentos temáticos que cada pergunta específica necessariamente estabeleceria, embora não fosse essa a sua intenção declarada, lanço a primeira palavra, e a segunda, e a terceira, como pássaros a que foi aberta a porta da gaiola, sem saber muito bem, ou não o sabendo de todo, aonde eles me levarão. Falar torna-se então numa aventura, comunicar converte-se na busca metódica de um caminho que leve a quem estiver escutando, tendo sempre presente que nenhuma comunicação é definitiva e instantânea, que muitas vezes é preciso voltar atrás para aclarar o que só sumariamente foi enunciado. Mas o mais interessante em tudo isto é descobrir que o discurso, em lugar de se limitar a iluminar e dar visibilidade ao que eu próprio julgava saber acerca do meu trabalho, acaba invariavelmente por revelar o oculto, o apenas intuído ou pressentido, e que de repente se torna numa evidência insofismável em que sou o primeiro a surpreender-me, como alguém que estava no escuro e acabou de abrir os olhos para uma súbita luz. Enfim, vou aprendendo com as palavras que digo. Eis uma boa conclusão, talvez a melhor, para este discurso. Finalmente breve.

 

 

Share