Aparentemente, uma rua qualquer… Porém, cuidado: não tem saída.
Estréia, no dia das bruxas e do saci, o curta Rua José Cadilhe, uma produção legitimamente curitibana. Após, festa de lançamento no Blues Velvet, com exposição de fotos desta que vos escreve. Abaixo, tudo o que precisais saber para entrar nesse universo.
Livra o nome
de inúteis sons
de letras a mais
ou a menos
Livra o destino
do nome gravado
Do nome escrito
em areia do tempo,
no imutável tempo
do nome
Livra a alma
de escudos, estrelas demais
De tudo supérfluo,
de toda superfície,
do aluamento do ser
Livra a liberdade
de todo lastro
De qualquer lustro
De vocábulos insólitos, grandiloqüentes,
feitos de nada,
vocábulos de enfeite, confeitos
Livra-te do palmo de terra
que te cabe
De panfletos do sentimentalismo
Dos improvisos da paixão
Livra-te de ti
antes de tudo
Livra-te a fio de navalha
Livra-te a fio de idéia
que da dor faz palha
Livra-te de idéias fixas
Porque a dor alheia
também é nossa
Lindolf Bell
Poeta catarinense, pouco conhecido fora de suas terras, apesar de sua densa obra. O primeiro de alguns poemas dele que disponibilizarei aqui.
Ele sonhava encontrar o Tempo
tirar suas sandálias
e convidá-lo a cear
O diálogo seria o silêncio
sem pratos, sem mesa
Ele e o Tempo
sentados no chão de luar
Na fogueira da criação
assariam seu jantar
comeriam a vida, a morte
e a semente do recomeçar
Ele sonhava encontrar o Tempo
enquanto o Tempo é o próprio sonhar
Nesta semana Curitiba se vê mais latina, por debaixo da grossa camada de pó europeu. A 1ª Semana Americana de Solidariedade com os Povos – Homenagem aos Poetas da América começou na terça e termina com festa no feriado. Na programação estão palestras, exposições, música, oficinas de teatro, mosaico, apresentação de danças típicas de povos da América e exibição de filmes.
Entre os convidados especiais estão Thiago de Mello, Aleida Guevara e Leonardo Boff.
PROGRAMA:
SEMANA AMERICANA DE SOLIEDARIDADE COM OS POVOS – HOMENAGEM AOS POETAS DA AMÉRICA
06 DE OUTUBRO:
– 14 h – BIBLIOTECA PÚBLICA – Abertura da exposição de cartazes sobre cinema e apresentação de filmes com debate. Filme: “El fraude” (México). Apresentador: Jorge Hernández
– 18:30 h – CANAL DA MÚSICA – ABERTURA OFICIAL,com coquetel e programação a seguir:
* Lançamento da exposição de mosaicos: “Poetas da América”, por Javier Guerrero e equipe;
* Lançamento do livro com fotografias dos retratos em mosaico e suas biografias, assim como um poema de cada um deles, em versão bilíngüe (português/ espanhol). Os textos biográficos serão de Pedro Carrano com tradução para o espanhol por Fátima Caballero. Os quadros em mosaico serão fotografados por Elisandro Dalcin.
* Mesa redonda, com os poetas THIAGO DE MELLO e o ROBERTO FERNÁNDEZ RETAMAR (presidente da Casa das Américas de Cuba) – Tema: “A poesia na resistência dos povos e como expressão da solidariedade”
* Leitura dramática do poema Estatutos do Homem de Thiago de Mello a ser realizada pelos grupos de teatro Nuspartus e Atormente.
* Apresentações de dança cubana.
• 07 DE OUTUBRO:
– Das 09 às 12 h – CENTRO CHE – Oficina de mosaico, com Javier Guerrero (vagas limitadas – informações: Centro Che f: 3024-0611);
– Das 14 às 17 h – CENTRO CHE – Oficina de teatro, com o cubano Atílio Caballero (vagas limitadas – informações: Centro Che f: 3024-0611);
– 14 h – BIBLIOTECA PÚBLICA – Apresentação de documentários chilenos. Apresentadora: Ximena.
– 18:30 h – CANAL DA MÚSICA
* Mesa redonda, com JANICE THIEL (PUC-PR), REGINA M. PRZYBYCIEN (UFPR) e MARIA LÚCIA MILLÉO MARTINS (UFSC) – Tema: “A solidariedade dos povos dos EUA e do Canadá, expressa através da obra poética.”
* Dramatização poética, com o ator LUIZ REIKDAL
• 08 DE OUTUBRO:
– Das 09 às 12 h – CENTRO CHE – Oficina de mosaico, com Javier Guerrero;
– 13 h – BOCA MALDITA – Ato Público em memória a Che Guevara;
– Das 14 às 17 h – CENTRO CHE – Oficina de teatro, com o cubano Atílio Caballero;
– 14 h – BIBLIOTECA PÚBLICA – Apresentação do filme “Che”. Apresentadora: Rosa Rorbira.
– 18:30 h – CANAL DA MÚSICA
* Mesa redonda, com ALEIDA GUEVARA, TADEU VENERI (Dep.Estadual) e ROBERTO BAGGIO (MST) – Tema: “Homenagem a Che Guevara”.
* Grande Show Musical em homenagem a Che Guevara, com:
– VICENTE FELIÚ (Cuba)
– DANTE RAMON LEDESMA (Argentina)
– Grupo VIENTO SUR (Curitiba)
• 09 DE OUTUBRO:
– Das 14 às 17 h – CENTRO CHE – Oficina de teatro, com o cubano Atílio Caballero;
– 14 h – BIBLIOTECA PÚBLICA – Apresentação de um documentário sobre torturados em Curitiba durante a ditadura. Apresentador: a definir.
– 18:30 h – CANAL DA MÚSICA
* Palestra, com CLÁUDIO RIBEIRO (Advogado) – Tema: “A poética da luta armada nos anos 60”.
* Apresentações de Danças – Paraguaia e Peruana
• 10 DE OUTUBRO:
– 15 h – CANAL DA MÚSICA
* 1ª Mesa redonda, com CARLOS TREJO SOSA (cônsul de Cuba), RENATO SIMÕES (PT) e representantes dos consulados da Bolívia, Equador e Venezuela – Tema: “A política solidária entre os povos americanos”.
– 17 h – CANAL DA MÚSICA – Apresentação de Dança.
– 17:30 h – CANAL DA MÚSICA
* 2ª Mesa redonda, com LEONARDO BOFF (teólogo), RAIMUNDO CARUSO e MARILÉA LEAL CARUSO (escritores) – Tema: “A Identidade Solidária da América”.
– 20 h – AUDITÓRIO DO MUSEU OSCAR NIEMEYER – Apresentação de teatro: “La octava puerta” pelo grupo El Caballero (Cuba).
– 22 hs – CALAMENGAU (Soc. Vasco da Gama) – FESTA DA SOLIDARIEDADE, com a banda El Merecumbê.
• 11 DE OUTUBRO:
– Das 09 às 12 h – CANAL DA MÚSICA – Seminário com 3 mesas temáticas:
* MESA 1 – “A irmandade entre os povos e a contribuição à solidariedade”, coordenado pelo grupo de estudantes cubanos que vivem no Brasil.
* MESA 2 – “Situação política e econômica latino-americana”, coordenada por Roberta Traspadini (Consulta Popular).
* MESA 3 – “O papel da cultura na libertação dos povos”, coordenada por EVELAINE MARINES (Via Campesina)
– Das 14 às 15:30 – CANAL DA MÚSICA – continuidade ao seminário.
– 16:30 h – CANAL DA MÚSICA – PLENÁRIA de conclusão do seminário, com as conclusões das 3 mesas de trabalho.
• 12 DE OUTUBRO:
– A partir das 09 h – BOSQUE SÃO CRISTÓVÃO (Sta. Felicidade) – 7ª Festa Latino-Americana, promovida pela Pastoral do Imigrante e pela AILAC (Associação de Latinos em Curitiba)
* 09 h – Missa
* 12 h – Degustação de comidas típicas
* 14 h – Apresentação de danças e conjuntos musicais
Organizadores do evento:
Associação cultural José Martí PR- Cuba
Centro de Estudos Che Guevara
Grupo OLLA – Ousadia e Liberdade Latino-americana
AILAC – Associação de Latinos em Curitiba
Pastoral do Imigrante.
Via Campesina
Biblioteca Pública do Estado do Paraná
Um espirro. Marcelo, constrangido, tira o lenço do bolso e assoa o nariz. A senhora ao lado, um pouco temerosa, mas muito arraigada aos costumes, põe a máscara de lado e lhe deseja saúde. Uma mulher, com uma criança dormindo ao colo, puxa seu filho mais velho bruscamente pelo braço, enquanto o homem guarda o lenço. O menino faz um pouco de manha, mas resigna-se. Ninguém ousa cruzar olhares.
A enfermeira entra na imensa recepção e chama dez nomes, pelo sistema de som, seguindo a lista que tem nas mãos. Marcelo levanta-se, junto com os outros – são conduzidos pelos corredores assépticos do hospital. Ele não quer ir. Sente-se um covarde. Ele sabe que não deveria estar ali, ninguém deveria estar ali.
Ouvem-se somente passos, que ecoam pelas paredes lisas. O barulho da borracha das solas em atrito com o piso aumenta o desconforto. Param em frente ao “Centro de Vacinação”: as portas se abrem. A enfermeira aciona o projetor 3D, que executa uma didática apresentação sobre os possíveis efeitos devastadores da gripe láctea, um vírus mutante que ameaça a estabilidade social. Números atrás de números são apresentados – dados de atingidos e mortos pela doença, seguidos de previsões catastróficas. “É dever de todo cidadão prevenir-se”, conclui o informe virtual.
Os pacientes são convocados a alinhar-se no balcão de vacinação. Um ao lado do outro, eles seguem as instruções e inclinam seus braços sobre o sinalizador. Marcelo desvia o olhar – ele nunca gostou de injeções. Levanta a vista para o teto para não ter que olhar a agulha; alguma coisa chama sua atenção, na extremidade da sala. Checa os cantos – tudo monitorado. A “imprensa b” fala em terrorismo de Estado, sob pseudônimos, protegendo-se do que chama de “caça aos esclarecidos”. Fontes atestam que a vacina é altamente prejudicial e sua distribuição segue interesses da indústria farmacêutica, outras afirmam que tal política de saúde faz parte de um programa mundial de rastreamento liderado pela CIA. Dizem que tal vírus surgiu das péssimas condições de criação de vacas leiteiras e da negligência no tratamento de seus excrementos. Mas a mídia de massa, que atinge cada celplayer do mundo inteiro, não discute causas, nem pesa polêmicas. O pânico gerado se alastra, derrubando qualquer ameaça de reflexão.
A enfermeira responsável pela vacinação inicia o procedimento. Após a esterilização, as dez injeções, alinhadas no mesmo mecanismo, iniciam o movimento para baixo. Precisamente, com um suave ruído, os tubos de Teroclox aproximam-se das veias, seus destinos.
– Moça, moça, por favor – chama Marcelo, interrompendo a angústia resignada do silêncio com a inquietude do desespero. A enfermeira o olha com desconfiança, paralisa a operação e vai em sua direção.
– Pois não?
– Me desculpa, mas é que eu tenho pressão baixa, tô me sentindo mal, preciso sair pra tomar um ar…
– Senhor, o procedimento será concluído em trinta segundos, se o senhor cooperar. Venha, eu ajudo o senhor.
– Não, você não está entendendo…
– Por favor, eu o ajudo – e, guiando-o até o balcão, discretamente colocou uma de suas mãos no bolso do jaleco e emitiu um alerta pelo comunicador interno.
Ela foi guiando-o pelo braço, ele desnorteado, sem ter a menor ideia do que fazer, mas com a certeza de ter que se mandar imediatamente. Procurou janelas, mas não havia – a enfermeira, numa situação patética, o sentava na cadeira, conduzia todos os seus movimentos, pegava seu braço e ele lá, estúpido, hesitante.
A enfermeira reposicionou Marcelo e acionou novamente o mecanismo. Mais uma vez, a máquina macabra de dez injeções descia lentamente, precisamente, inexoravelmente. Num impulso de pavor, ele se levantou, esbarrou na enfermeira e correu em direção à porta. Ele alcançou a saída ofegante, mas não conseguiu ultrapassá-la: seu rosto encontrou o peito de um dos seis seguranças robotizados que cercavam a sua saída.
Nas ruas, não havia ninguém. Escolas, museus, praças – tudo parado. Contraditoriamente, somente os centros de consumo e de produção, além do setor de saúde, continuavam girando sua engrenagem, irredutíveis. E ele nesse cenário deprimente, sem vida – carcaças de civilização – sendo transportado como se fosse uma ameaça à sociedade.
No caminho para a Casa de Cura Psíquica e Ordem Social, ele lembrou de um livro muito antigo que havia lido. Contava que no início do século XX houve uma epidemia de varíola. Os suspeitos de ter a doença eram levados pela segurança pública a cárceres imundos; depois disso, ninguém nunca mais sabia deles. Teve um ímpeto de gritar, mas o que saiu foi um profundo suspiro. Não havia ninguém para ouvir.
Luz na Ilha do Sol.
Depois de três meses vamos deixar a Bolívia, esse lugar de cultura tão diferente, que eu pensei ter que viajar muito mais longe para encontrar. Um país que parece ter parado no tempo, que fascina a alguns e assusta a outros.
Ter a sorte de achar um estabelecimento que aceite cartão de crédito é como ganhar na loteria. Os ônibus são um tanto arcaicos (e as estradas então, nem se fale). As “mamitas” ainda usam suas roupas da época da colonização: saia rodada até o joelho, chapéu e tranças. É comum ver homens com a bochecha enorme e a boca verde. Mascam coca. Todos os brasileiros perguntam com excitação sobre a coca, como se fosse algo muito subversivo. Lá, faz parte da cultura cotidiana: a coca é a folha sagrada dos povos andinos, além de dar energia, abrandar a fome e ser bastante eficaz para aliviar os efeitos da altitude.
Vegetarianos, se preparem. Encontrar uma refeição sem carne, principalmente frango, é uma jornada. Pode-se comprar pães e frutas no mercado, mas se você é como eu, que não aguenta muito tempo sem uma refeição quentinha, vá aquecendo as pernas e a língua.
Inicialmente tentávamos assim: “olá senhora, tem alguma coisa sem carne?”, mas como a resposta era sempre negativa, mudamos de tática. Perguntávamos primeiro “o que tem para comer?”, e depois “dá para fazer a mesma coisa sem carne?”. Os vendedores olhavam com uma cara de “como sem carne?”, então explicávamos que existem comidas que não são carne, como um prato com arroz, batata e salada. A maioria respondia que não, outros aceitavam e até cobravam mais barato. Virávamos clientela fiel.
Copacabana e a Ilha do Sol
Em Tarija juntamos uma boa grana, suficiente para ir direto a La Paz comprar material para artesanato e seguir rumo a Copacabana. Passamos um dia e uma noite na capital boliviana. Após um bom tempo longe de metrópoles, foi um tanto quanto estranho ser engolidos pela selva de pedra.
La Paz tem regiões bonitas, mas paz que é bom eu não tive não. Pessoas apressadas e preocupadas, tragadas pelo cimento, asfixiadas pela fumaça. Thiago fez um pouco de malabares e disse que nunca tinha visto pessoas que pareciam tão sérias e tristes enquanto pedia contribuições.
Compramos passagem para Copacabana, às margens do lago Titicaca, pensando que curtiríamos uma praia. Até podia ser, se não fosse tão frio. Foi muito bom para vender, havia muitos turistas, mas descobri que no mundo do artesanato nem tudo são rosas. Existem os chamados “malucos de escola antiga”, artesãos que já estão há muito tempo na estrada, que às vezes têm um código de ética meio estranho.
Passamos o ano novo em Copacabana e já no dia dois de janeiro tomamos um barco para a Ilha do Sol. O barco chegou do lado turístico da ilha, dominado por albergues e gringos. Nós tínhamos a indicação de procurar Dom Tomás, um senhor que oferece quartos e permite acampamento do outro lado da ilha, onde só vivem alguns nativos. O problema é que entre nós e o outro lado havia uma dessas grandes montanhas andinas, a quatro mil metros de altitude, e tínhamos que carregar nossas mochilas de 75 litros lotadas de material, roupas e comida para acampar.
Pagamos todos os nossos pecados subindo, ainda ganhamos uns bônus celestiais descendo e enfim chegamos à casa de Dom Tomás, um senhor boliviano muito simpático. Ele fez algumas gracinhas e indicou onde poderíamos armar a barraca. Alguns artesãos argentinos já estavam lá, em volta da fogueira, esquentando água para o mate.
Ilha do Sol.
O acampamento era muito simples – o quintal do Seu Tomás. O banheiro era uma fossa e não tinha ducha, o banho era no Titicaca mesmo. Como a água era muito fria, confesso que em uma semana na Ilha do Sol encarei o banho só uma vez.
Criamos uma rotina juntos, nós e os argentinos. Aprendi muito com eles, em vários aspectos. Alguns deles viajavam de bicicleta, já tinham percorrido seu país e o Brasil. As meninas me passaram novos pontos de macramê e a convivência ensinou a ser mais fraternal, a dividir as coisas e a tomar iniciativa. Essas experiências comprovam que não importa o tempo que passamos juntos, sempre é possível fazer verdadeiros amigos.
O ambiente contribuía – a Ilha do Sol é deslumbrante, mágica. Lindo céu, lindo lago, lindas montanhas, um local sagrado para os incaicos. É um daqueles lugares que tenho certeza que vou voltar, com mais tempo para desfrutar.
Artesãos argentinos e bolivianos na Ilha do Sol.
Hasta luego, Bolívia
Um pouco estranho sair da Bolívia. Esse país nos ensinou muito, foi o cenário propício para intensas metamorfoses. Ao encontrar uma cultura tão diferente, alguns acham mais fácil tachá-la de bizarra. Tentar compreender exige mais tempo e paciência, mas é muito mais bonito.
Chiquita. Ilha do Sol.
A Bolívia é um país onde as tradições ainda estão vivas, onde a exploração colonial foi arrasadora e o neoliberalismo não encontrou grandes interesses. Uma nação explorada até por seus vizinhos, todos eles, que dentro do sistema de exploração se aproveitam dos ainda mais fracos. Mas esse povo cansou de ser fraco, cansou de ser explorado. Essa atitude se revela nos inúmeros conflitos e na difícil situação social na qual se encontra a Bolívia. Situação de mudança, de tomada de consciência, que infelizmente muitas vezes é confundida com revolta cega e sede de sangue.
Eu não entendi a Bolívia. Acho que nunca vou entender. Mas a aceitei, e aprendi a desfrutar de sua cultura tão distinta.
Esse texto faz parte do livro Viajeros, que foi publicado em posts nesse blog.
Veja o post anterior.
Veja o próximo.
Deliberações do Grupo de Discussão do Eixo I – Produção Simbólica e Diversidade Cultural da II Conferência Municipal de Cultura de Curitiba.
ESTRATÉGIAS DE ÂMBITO NACIONAL
1 – Estabelecer políticas federais de cultura que criem ferramentas para a participação da sociedade por meio de conferências realizadas com as comunidades, nas quais serão eleitos os conselhos específicos formados por representantes das diversas áreas culturais, para garantir espaço para as especificidades artísticas e regionais nas etapas de concepção, desenvolvimento e aplicação de políticas de cultura, para que a diversidade de linguagens artísticas e atividades culturais sejam fomentadas e contempladas com editais públicos e destinação de dotação orçamentária.
2 – Estabelecer políticas federais de cultura que desenvolvam programas de formação para comunicação, permitindo que todo cidadão se aproprie de sua condição de agente político e cultural, tendo em vista que é através dos meios de comunicação que se difundem as concepções e manifestações culturais, viabilizando a capacitação da população para atuação em rádios e TVs públicas e comunitárias e demais meios, contribuindo para a democratização dos meios de comunicação por meio da livre expressão da diversidade cultural.
ESTRATÉGIAS DE ÂMBITO ESTADUAL
1 – Que as políticas estaduais de cultura criem ferramentas para a participação da sociedade por meio de conferências comunitárias nas quais serão eleitos os conselhos específicos formados por representantes das diversas áreas culturais para garantir as especificidades artísticas, regionais e geográficas nas etapas de concepção, desenvolvimento e aplicação de políticas de cultura, para que a diversidade de linguagens artísticas e atividades culturais sejam fomentadas e contempladas com editais públicos e destinação de dotação orçamentária.
2 – Estabelecer políticas estaduais de cultura que ampliem a articulação com as políticas estaduais de educação, oferecendo editais integrados para entidades culturais que trabalhem com a temática da arte e educação e/ou desenvolvam programas de formação para comunicação, permitindo que todo cidadão se aproprie de sua condição de agente político e cultural, garantindo a afirmação e divulgação da diversidade cultural da comunidade.
ESTRATÉGIAS DE ÂMBITO MUNICIPAL A SEREM ENCAMINHADAS AO MINISTÉRIO DA CULTURA
1 – Que haja ampliação das políticas públicas municipais através da descentralização da cultura do eixo central, geográfico e financeiro da cidade por meio de ações permanentes, criando centros de cultura nos bairros, abertos à comunidade, que tenham a função de identificar, mapear, pesquisar e incentivar a formação político-cultural dos cidadãos, assim como a capacitação para elaboração de projetos subsidiados pelas Leis de Incentivo à cultura, ampliando as ações de afirmação voltadas à diversidade cultural e valorizando a cultura popular e os setores periféricos historicamente excluídos.
2 – Que as políticas municipais de cultura reconheçam a comunicação como essencial para a difusão da produção simbólica e reconhecimento da diversidade cultural, expandindo seus veículos de comunicação (a exemplo de seu guia cultural, site na internet, murais nos mobiliários urbanos, como também futuros veículos que possam vir a ser criados), utilizando os princípios do softwares livres, Creative Commons e copyleft, garantindo a divulgação da produção cultural da comunidade.
ESTRATÉGIAS DE ÂMBITO MUNICIPAL A SEREM ENCAMINHADAS À FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA
1 – Estabelecer políticas federais de cultura que criem ferramentas para a participação da sociedade por meio de conferências realizadas com as comunidades, nas quais serão eleitos os conselhos específicos formados por representantes das diversas áreas culturais, para garantir espaço para as especificidades artísticas e regionais nas etapas de concepção, desenvolvimento e aplicação de políticas de cultura, para que a diversidade de linguagens artísticas e atividades culturais sejam fomentadas e contempladas com editais públicos e destinação de dotação orçamentária.
2 – Estabelecer políticas municipais de cultura que ampliem a articulação com as políticas estaduais de educação, oferecendo editais integrados para entidades culturais que trabalhem com a temática da arte e educação e/ou desenvolvam programas de formação para comunicação, permitindo que todo cidadão se aproprie de sua condição de agente político e cultural, garantindo a afirmação e divulgação da diversidade cultural da comunidade.
3 – Estabelecer políticas municipais de cultura que desenvolvam programas de formação para comunicação, permitindo que todo cidadão se aproprie de sua condição de agente político e cultural, tendo em vista que é através dos meios de comunicação que se difundem as concepções e manifestações culturais, viabilizando a capacitação da população para atuação em rádios e TVs públicas e comunitárias e demais meios, contribuindo para a democratização dos meios de comunicação por meio da livre expressão da diversidade cultural.
Saiba mais sobre a II Conferência Municipal de Cultura aqui.
Crônica desse gênio publicada em 24 de abril de 1892 na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro.
Na segunda-feira da semana que findou, acordei cedo, pouco depois das galinhas, e dei-me ao gosto de propor a mim mesmo um problema. Verdadeiramente era uma charada; mas o nome de problema dá dignidade, e excita para logo a atenção dos leitores austeros. Sou como as atrizes, que já não fazem benefício, mas festa artística. A cousa é a mesma, os bilhetes crescem de igual modo, seja em número, seja em preço; o resto, comédia, drama, opereta, uma polca entre dous atos, uma poesia, várias ramalhetes, lampiões fora, e os colegas em grande gala, oferecendo em cena o retrato à beneficiada.
Tudo pede certa elevação. Conheci dous velhos estimáveis, vizinhos, que esses tinham todos os dias a sua festa artística. Um era Cavaleiro da Ordem da Rosa, por serviços em relação à guerra do Paraguai; o outro tinha posto de tenente da guarda nacional da reserva, a que prestava bons serviços. Jogavam xadrez, e dormiam no intervalo das jogadas. Despertavam-se um ao outro desta maneira: “Caro major!” — “Pronto, comendador!” — Variavam às vezes: — “Caro comendador!” — “Aí vou, major!”. Tudo pede certa elevação.
Para não ir mais longe. Tiradentes. Aqui está um exemplo. Tivemos esta semana o centenário do grande mártir. A prisão do heróico alferes é das que devem ser comemoradas por todos os filhos deste país, se há neles patriotismo é outra cousa mais que um simples motivo de palavras grossas e rotundas. A capital portou-se bem. Dos Estados estão vindo boas notícias. O instinto popular, de acordo com o exame da razão, fez da figura do alferes Xavier o principal dos inconfidentes, e colocou os seus parceiros a meia ração da glória. Merecem, de certo, a nossa estimação aqueles outros; eram patriotas. Mas o que se ofereceu a carregar com os pecados de Israel, o que chorou de alegria quando viu comutada a pena de morte dos seus companheiros, pena que só ia ser executada nele; o enforcado, o esquartejado, o decapitado, esse tem de receber o prêmio na proporção do martírio, e ganhar por todos, visto que pagou por todos.
Um dos oradores do dia 21 observou que, se a Inconfidência tem vencido, os cargos iam para os outros conjurados, não para o alferes. Pois não é muito que, não tendo vencido, a história lhe dê a principal cadeira. A distribuição é justa. Os outros têm ainda um belo papel; formam, em torno de Tiradentes, um coro igual ao das Oceânides diante de Prometeu encadeado. Relede Ésquilo, amigo leitor. Escutai a linguagem compassiva das ninfas, escutai os gritos terríveis, quando o grande titão é envolvido na conflagração geral das cousas. Mas principalmente, ouvi as palavras de Prometeu narrando os seus crimes às ninfas amadas: “Dei o fogo aos homens; esse mestre lhes ensinará todas as artes”. Foi o que nos fez Tiradentes.
Entretanto, o alferes Joaquim José tem ainda contra si uma coisa, a alcunha. Há pessoas que o amam, que o admiram, patrióticas e humanas, mas que não podem tolerar esse nome de Tiradentes. Certamente que o tempo trará a familiaridade no nome e a harmonia das sílabas; imaginemos, porém, que o alferes tem podido galgar pela imaginação um século e despachar-se cirurgião-dentista. Era o mesmo herói, e o ofício era o mesmo; mas traria outra dignidade. Pode ser até que, com o tempo, viesse a perder a segunda parte, dentista, e quedar-se apenas cirurgião.
Há muitos anos, um rapaz — por sinal que bonito — estava para casar com uma linda moça —, a aprazimento de todos, pais e mães, irmãos, tios e primos. Mas o noivo demorava o consórcio; adiava de um sábado para outro, depois quinta-feira, logo terça, mais tarde sábado; — dois meses de espera. Ao fim desse tempo, o futuro sogro comunicou à mulher os seus receios. Talvez o rapaz não quisesse casar. A sogra, que antes de o ser já era, pegou do pau moral, e foi ter com o esquivo genro. Que histórias eram aquelas de adiamentos?
— Perdão, senhora, é uma nobre e alta razão; espero apenas…
— Apenas…?
— Apenas o meu título de agrimensor.
— De agrimensor? Mas quem lhe diz que minha filha precisa do seu ofício para comer? Case, que não morrerá de fome; o título virá depois.
— Perdão; mas não é pelo título de agrimensor, propriamente dito, que estou demorando o casamento. Lá na roça dá-se ao agrimensor, por cortesia, o título de doutor, e eu quisera casar já doutor…
Sogra, sogro, noiva, parentes, todos entenderam esta sutileza, e aprovaram o moço. Em boa hora o fizeram. Dali a três meses recebia o noivo os títulos de agrimensor, de doutor, e de marido.
Daqui ao caso eleitoral é menos que um passo; mas, não entendendo eu de política, ignoro se a ausência de tão grande parte do eleitorado do dia 20 quer dizer descrença, como afirmam uns, ou abstenção como outros juram. A descrença é fenômeno alheio à vontade do eleitor; a abstenção é propósito. Há quem não veja em tudo isto mais que a ignorância do poder daquele fogo que Tiradentes legou aos seus patrícios. O que sei, é que fui à minha seção para votar, mas achei a porta fechada e a urna na rua, com os livros e ofícios. Outra casa os acolheu compassiva; mas os mesários não tinham sido avisados e os eleitores eram cinco. Discutimos a questão de saber o que é que nasceu primeiro, se a galinha, se o ovo. Era o problema, a charada, a adivinhação de segunda-feira. Dividiram-se as opiniões; uns foram pelo ovo, outros pela galinha; o próprio galo teve um voto. Os candidatos é que não tiveram nem um, porque os mesários não vieram e bateram dez horas. Podia acabar em prosa, mas prefiro o verso:
Sara, belle d’indolence,
Se balance
Dans un hamac… *
* Sara, bela na sua indolência,
Se balança
Numa rede…
De mim
Dona de mim?!
Não sou dona de nada.
Deslizo em minhas vontades,
Escalo os meus sonhos,
Transito entre meus medos,
Disfarço meus enganos.
Fumo cigarros na descontinuidade do silêncio.
Tomo café em xícaras sem asas.
Meus sentimentos, não os controlo:
Surgem de mim e viram minha casa.
Minha mãe diz que tenho um urso dentro de mim
Um urso que se conforta na solidão.
Sou filha de mim;
Dona, não.
.
.
Eterealidade
Não sei se me pertenço;
Esse sonho é meu,
Ou será de quem?
A realidade insiste em parecer real.
Há um rato na cozinha.
.
.
Só
Matéria composta de vazio
Ondas invisíveis, visível solidão.
O abstrato toma forma
E se liquefaz.
.
.
Linguística
Infindável dedicação:
perceber e catalogar ideias.
Em vão.
Pássaros amarrados não voam.
Infelizmente, a apresentação foi cancelada devido à gripe suína (ainda?!). Nova data será informada.
A Companhia de Dança Afro Kundun Balê apresentará o “Encanto das Três Raças” no Canal da Música, dia 11 de setembro. O espetáculo, elaborado em parceria com o Grupo Artístico Mandorová, de Guarapuva, e ASSEMA (Associação Espiritualista Mensageiros de Aruanda), de Curitiba, é inspirado na umbanda e suas origens brancas, negras e índias.
Veja mais sobre o espetáculo aqui e aqui.
ENCANTO DAS TRÊS RAÇAS
11 de setembro – 20h
Canal da Música
Rua Julio Perneta 695 – Mercês (prédio da TV Educativa)
A Entrada é franca, sendo pedido apenas a título de doação 1 kg de alimentos não perecíveis (não obrigatório). Este alimento será revertido a Comunidade Quilombola Paiol de Telha, de Guarapuava, PR, onde moram os bailarinos e percussionistas do Kundun Balê.