Archive for the ‘poesias’ Category

Mais poemetos

segunda-feira, setembro 7th, 2009

De mim

Dona de mim?!
Não sou dona de nada.

Deslizo em minhas vontades,
Escalo os meus sonhos,
Transito entre meus medos,
Disfarço meus enganos.

Fumo cigarros na descontinuidade do silêncio.
Tomo café em xícaras sem asas.
Meus sentimentos, não os controlo:
Surgem de mim e viram minha casa.

Minha mãe diz que tenho um urso dentro de mim
Um urso que se conforta na solidão.

Sou filha de mim;
Dona, não.
.
.
Eterealidade

Não sei se me pertenço;
Esse sonho é meu,
Ou será de quem?

A realidade insiste em parecer real.
Há um rato na cozinha.
.
.

Matéria composta de vazio
Ondas invisíveis, visível solidão.

O abstrato toma forma
E se liquefaz.
.
.
Linguística

Infindável dedicação:
perceber e catalogar ideias.

Em vão.

Pássaros amarrados não voam.

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Poemas descobertos – Prostituição moral

domingo, agosto 30th, 2009

Esse é da época em que eu trabalhava num banco aí…
nos idos de 2004.

Prostituição moral
vendendo minha dignidade
pra sair desse lixo
a chegada à “liberdade”
se resume a isso.

Sonhos contados em moedas
enquanto estou nessa prisão sem celas
trabalho maquinal, lavagem cerebral,
luta cotidiana pra deixar tudo igual.

Pra fugir dessa vida
que planejaram pra mim
tenho que me prostituir,
engolir meu desprezo e sorrir.

Me esforço pra não esquecer quem eu sou
não posso deixar a mesquinhez me sugar
queria não estar onde estou
mas esse é o preço que tenho que pagar.

Medo e consumismo
combustível dessa máquina
que quer me esmagar
culpam o terrorismo
mas é a pressão desse sistema
que não deixa respirar.

Minha vida há de ser mais que uma tarja magnética.

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Poemas descobertos – Apocalíptico*

terça-feira, junho 2nd, 2009

*Estava procurando uns textos sobre o imaginário incaico. Não achei, mas encontrei esses poemas, pra minha surpresa (como Amelie Poulin, que encontra o esquecido e antigo tesouro de uma criança e possibilita o emocionante encontro de um homem com a sua infância). Não, esses poemas não são da minha infância – escrevi-os durante a faculdade, com aquele sentimento de que “alguma coisa está fora da ordem”… Aí vai o primeiro (não estão em ordem cronológica – em verdade, estão rabiscados em folhas soltas. Emocionante. Pedaçinhos de um eu que, em sua totalidade, já não existe mais).

Apocalíptico

Perdão,
eu não vou mais dançar essa dança,
esse ritmo é sério demais.

Perdão,
mas eu quero viver no meu ritmo,
porque escondido no meu íntimo
estou sofrendo demais.

Com meus sonhos inconcretos
fico preso entre os muros de concreto,
com minhas asas enroscadas no cimento
eu não consigo lutar.

Um dia a cidade há de cair
e os sonhos vão se libertar.

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Poemetos

terça-feira, abril 7th, 2009

Poemetos escritos da única maneira que sei escrever poesia: quando o papel e a caneta chamam, sendo a única solução para a insônia. A caneta corre no papel assim sem muita pretensão nem racionalização – é a expressão livre do eu.

 

Teoria da queimadura

Coitadas das minhas células
sofrem queimadas, sem saber por quê.

Talvez haja mundos em cada uma delas –
seus habitantes criam teorias acerca de Deus e o Universo (no caso, Eu).
Não compreendem que sua galáxia é a batata da minha perna
e agonizam, queimados, sem saber por quê.

Devem achar que é o fim dos tempos
aquecimento global.
a fúria dos anjos.
Não os culpo. Talvez o meu mundo
seja uma célula da batata da perna de Deus,
e também agonizo sem saber por quê.

A vida

Caí.
Machuquei.
Gritei.
Levantei.
Curei.

Nada de manha.
A vida é dura.

Eco emotivo

Por que não devo pensar
no que poderia ter sido?

Esmiuçar cada sonho do passado, possibilidades
labirinto de ecos do vivido.

Devo ter medo de me machucar?
Pode ser divertido.

Desmimada

Solteira e longe dos pais,
não sei mais chorar arrancando os cabelos.

Declaração

Sinto muito, mas nunca vou te deixar em paz.
Te amo.

Colorizando

Qual é a cor do seu desejo?

O meu é rosa, bem de menina.
(Mas pode ficar vermelho).

Desbocada

Se minha boca te disser mentiras,
não acredites.

Ela não sabe o que fala.

P.S. Percebo uma certa influência dos Tiros Curtos do Joselito – mas os dele são bem melhores.

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Minha Terra

quinta-feira, março 26th, 2009

Repousa os pés na estrada
a cada passada
o nosso descanso é cruzar fronteiras

Minha terra tem palmeiras
mas eu nunca vi
tem palmares, tem quilombos
xavante, tupi

Minha terra tem aldeias
mas eu nunca vi
onde o vento é quem semeia
o alimento guarani

Minha terra tem lugares
que eu nunca fui
densas matas, tenros vales
onde a água flui

Minha terra tem estradas
minha terra tem estribos

Sou índio da cidade
desertor de minha tribo
ser urbano jogado no mundo
ser mundano perdido na urbe
um sulamericano perdido
que não quer ser mais um no cardume

Sou vagalume, sou vagalume
vejam minha luz!

Essa terra tem mil deuses
um deles que me conduz
essa terra tem canções
essa terra tem cantigas
mas o ouro dos brasões
veio abrir nossas feridas

Essa terra é muito antiga
essa terra é muito antiga

Repousa os pés na estrada
a cada passada
o nosso descanso
embalado pelo canto
em qualquer canto
desbravando os brasis
se as veias estão abertas
seremos a cicatriz

Poema de Marcus Vinicius (http://versosevasos.blogspot.com), o Mascote da Expedición Donde Miras – Caminhada Cultural pela América Latina (www.expediciondondemiras.blogspot.com).

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Paraisópolis – poema desabafo

segunda-feira, fevereiro 9th, 2009

Paraisópolis 04/02/2009

Os passarinhos eu não os tenho ouvido

Todos devem estar acuados em algum cantinho verde descoberto neste território

Hoje tem cavalaria, tem cachorro bravo

O som agora é papapapapapapapa

Há um pássaro de aço sobre a minha cabeça

Sobre a favela este som que faz a vigília todo o tempo

Nas entradas, tudo que é camuflado esta explícito

Todos uniformizados

 Lá o aço também se faz presente em formato de fuzil

 Do céu o som

 Dos lados, a imagem do uniforme camuflado, o controle

 Aqui dentro, uma só pressão

No peito, na garganta, nos olhos

E no estômago

As pessoas passam olhando para o chão, suas caras estampam a tristeza imposta

A rua que é sempre cheia, com as pessoas de roupas coloridas, está quase vazia

Pouco movimento

Não agüento mais esta máquina na minha cabeça

papapapapapapapa

A cidade Paraíso no seu antagonismo máximo

Contradições, desproporções, uma cadeia ao ar livre,

Contradição…

Os contra e os a favor

Uma garota me diz ao telefone

“Desculpa, ontem eu não fui à aula por causa da guerra”

Escuto e não acredito, aquilo parece um raio dentro de mim.

A guerra

É isto olha, escuta …….. papapapapapapapapa

Ele não para

Vigia este povo, esta gente com a pele escura

 Esta gente quase nua, vigia, controla

A guerra,

É só isto

Aqui são 80 mil, e o espaço…. só  um pedacinho de chão

assim ….o Paraíso

Paraisópolis

Todas as pessoas vigiadas, todas as lotações verificadas, cada sacolinha que a  humilde senhora carrega tem que ser mostrada, as casas invadidas para averiguações

Humilhação

Por cima, pelos lados, controle, opressão

Debaixo está a pressão, vai explodir, vem explodindo, 

E assim vem aquela força e os meninos vão

Seus atos são vândalos, mas o seu inconsciente não

Traz dentro de si o arquétipo do cabresto, a humilhação, a miséria de seu povo,

Lamentavelmente o seu grito é assim… visceral, irracional, é na paulada, tijolada,

Foram vândalos, marginais,

Os meninos sem escolas, nem estas de mentirinha que a gente conhece eles tem, destituídos de muitos direitos

A pressão cresce, e é também um sentimento mesclado, camuflado, que a gente não explica bem

Pressão crescente, desta vez de baixo para cima

Explode em pauladas, tijoladas, incêndios, caos

Atos vândalos

 

A cidade Paraíso esta em explosão

Razão?????

É a guerra tia

È a guerra….

papapapapapapapapapa

 

 

Poema-desabafo de Diane Padial, caminhante da Expedición Donde Miras que trabalha em Paraisópolis.

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Quetzacoalt

quarta-feira, agosto 27th, 2008
//www.elfwood.com/art

Quetzalcoatl – arte de Marcos Ortega – http://www.elfwood.com/art

Há uma serpente que rasteja
dentro de mim
a qual renego e acaricio
alternando culpa e orgulho
pureza e escárnio.

Meiga má menina mulher
velha ranzinza suas manias e suas pragas
— sou todas e sou nenhuma.

Sou negra cafusa índia
branquela azeda.
Meu sangue azul vermelho
sangue nenhum
minhas veias estão vazias
esvaíram-se em versos.

Sai poesia, sai a passear
leva contigo minhas tristezas
que já não as quero mais.
Leva contigo minhas maldades
minhas mesquinhas perversidades
carrega meu ego insaciável
e dai-lhe de beber.

E me deixe aqui sozinha
sem mim
porque longe de mim
eu posso criar asas
ser serpente emplumada
ser da terra que tudo vê.

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Viajeros – Questão de desordem

quinta-feira, abril 24th, 2008

Quem controla a minha vida?
Minha família? O dinheiro?
A preocupação com a estética?
Meus sonhos e ideais?
Meu corpo, como consciência de matéria?
Minhas aspirações profissionais?
Meus laços de amizade, de sangue, de sentimento?
Tudo isso. Ou nada.

Cruz e Sousa diria que o corpo é o cárcere da alma. Temo discordar. A maior das prisões é quando fazemos nossas as exigências do mundo. Amadurecer, estudar, casar… “Um emprego e uma namorada, quando você crescer”.
Buscamos esses padrões de segurança, mesmo contra nossa vontade, mesmo quando duvidamos desses estigmas sociais. Deixamos de lado nossa pureza, nossas loucuras, nossa dúvida existencial, para continuarmos rodando a engrenagem social.

Capitalismo selvagem, selva de pedra
Olho por olho, dente por dente.

Assim nos tornamos quem somos – atores procurando destaque no cenário mundial.

Reflexão trocada por verdades prontas
Cultura por entretenimento
Filosofia por auto-ajuda
Amor por atração
Sonhos por dinheiro

Tudo isso porque queremos, porque aceitamos o mais cômodo, embalado e pronto para consumo. Não sabemos mais ousar. Temos medo do futuro.
Tememos a noite, mas nos sentimos atraídos por ela.
O imprevisível nos fascina, mas fazemos tudo para evitá-lo.
Cada vez mais procuramos por “aventuras seguras nos fins-de-semana” para quebrar a rotina. Mas somos nós que construímos a rotina.

Procuramos nossa “cara metade”, “alma gêmea”, “o amor de nossas vidas”. Não sabemos aceitar os outros. Evitamos olhar nos olhos. Temos medo de nos expor, de transparecer nossas fragilidades e inseguranças. Criamos uma personagem social para esconder nossa real personalidade, ocultando nossas características mais pessoais e humanas.

Temos medo da solidão.
Temos medo do escuro,
do sofrimento, da desilusão.
Temos medo da vida.

Vivemos num quarto frio,
com paredes padronizadas de tempo e espaço.
Olhamos a vida pela janela
com olhos de fascinação e medo.
Poucos ousam pular.
Costumamos chamá-los de loucos ou gênios.
Eu os chamo de livres.

 

Escrevi esse texto em Curitiba em 2006, um pouco antes de sair de viagem. Encontrei-o no meu caderninho de rascunhos. A citação é de Raul Seixas, da música “Quando você crescer”.

 

Esse texto faz parte do livro Viajeros, que foi publicado em posts nesse blog.

Veja o post anterior.

Veja o próximo.

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